sábado, 1 de janeiro de 2011

Reflexões sobre a morte e o luto


Hoje, no primeiro dia do ano de 2011, quero falar do filme “Em busca de uma nova chance” (The Greatest) que assisti no último dia de 2010. O filme fala sobre uma família que sofre uma grande perda, e mostra como cada um lida com o luto.

Enquanto assistia ao filme, me lembrei do conceito de Homeostase na família, que em termos gerais, refere-se a tendência da família de manter seu sistema em equilíbrio. Esse conceito está implícito já que no decorrer do filme a família parece ficar em total desequilíbrio após a perda de um de seus componentes. Com isso podemos pensar que o filho mais velho que morre em um acidente de carro, era o perfeito da família, e quando sai de cena obriga a cada um olhar para si. Por isso o desequilíbrio. Com a saída do “filho perfeito”, cada um precisa voltar-se para suas próprias imperfeições e limitações, e lidar com elas.

E temos a entrada da namorada do filho para desorganizar ainda mais o sistema. Ela provoca diferentes reações nos membros da família, e revela a maneira com que cada familiar lida com o luto. A mãe, obcecada pela morte do filho, vê a garota como intrusa, e acredita ser inadmissível ficar feliz novamente após tamanha dor, como se a morte de seu filho a condenasse a infelicidade eterna. O pai vê a garota como um refúgio, de certa forma, uma substituta. Com isso não precisa lidar com a dor de sua perda. Além disso, insiste em ser visto como aquele que precisa ser “o forte” para apoiar os outros que sofrem. O irmão mais novo deprecia a garota como depreciava o irmão, para que ele possa se sobressair de alguma maneira, já que é o coadjuvante da família. O garoto procura um grupo de apoio e luta contra a vontade de se drogar novamente para fugir de seus problemas.

O filme revela extremos para lidar com a dor. E se pensarmos numa maneira ideal, talvez o melhor para cada um seja não adotar os extremos dos personagens do filme. Nem fugir do sofrimento como o pai, evitando expressar sua dor, ou o filho, se refugiando no quarto e nas drogas; nem deixar de viver sua vida e olhar para o futuro, como a mãe que ficou presa aos acontecimentos do dia da morte do filho. Talvez a postura da garota revele a forma mais saudável, aceitando a dor da morte de seu namorado, mas continuando a viver sua vida, e vislumbrando um futuro mais feliz.

Uma morte inesperada mexe mesmo com toda a família. O filme mostra isso com sensibilidade, mas a verdade é que cada um lida a seu jeito. Não há uma maneira certa ou errada, mas a maneira de cada um. E cada um a seu tempo verá se aquela forma com que está lidando é saudável ou prejudicial para si mesmo e para o sistema familiar no qual está inserido.

O filme me tocou de maneira especial, pois passei por essa dor em 2010. Minha mãe morreu de maneira inesperada em outubro e isso causou muitas mudanças. Mudanças na forma de ver a vida e de vivê-la com quem a gente ama. Alguns problemas tornam-se tão pequenos. Percebi que cada um expressa sua dor a sua maneira, e não há como julgar isso. Alguns simplesmente não conseguem lidar com o sofrimento. Alguns amigos simplesmente se afastam, talvez por acharem que você precisa de espaço, ou por não saberem mesmo como agir. Mas enfim, não há uma forma ideal. A verdade que ninguém nos avisa, é que a dor na verdade não passa. Não quer dizer que precisamos sofrer e chorar todos os dias, afinal nós continuamos a viver. Mas é como um buraquinho se abrisse e não se fechasse mais. Não há preenchimento, ele sempre estará lá. Mas a dor, digamos, muda de nível e aos poucos se transforma em saudade, então não dói tanto...mas o incomodo sempre estará no mesmo lugar.

Acredito que quando nos deparamos com a morte de alguém que tanto amamos, percebemos nossa finitude e falta de controle. A morte chega para todos e evitarmos falar disso não evita que ela aconteça em nossas vidas. Precisamos ser mais sinceros conosco mesmo, com nossas limitações, com nossos erros e nossa dor. Se a cada dia conseguirmos viver a vida de maneira plena, seja como for, com a gente e com os outros, poderemos encarar a morte com mais naturalidade. Não irá doer menos, mas quando ela chegar, estaremos mais preparados para continuar a viver...