quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

FAMÍLIA E FAMÍLIA: O QUE OS FILMES NEBRASKA E ÁLBUM DE FAMÍLIA TEM EM COMUM?


Sempre me delicio com filmes sobre família. Sempre trazem ótimas metáforas que nos fazem refletir sobre este complexo sistema que é comum a todos nós.

Destaco estes dois, que aparentemente são diferentes, mas ao mesmo tempo, possuem temáticas similares.

Álbum de família, mais do que revela um duro retrato de uma família, desvela! Para alguns um filme indigesto, para outros angustiante, mas para mim, é a forma de olhar para um problema corriqueiro na dinâmica familiar: repetição de padrões. É nítido ver como a matriarca vivida por Meryl Streep, utiliza uma comunicação disfuncional, ou seja, truncada, a base de críticas e ferroadas. Suas filhas, cada a uma a sua maneira, recebem e acatam este padrão de comportamento da mãe. Bárbara (Julia Roberts) parece reproduzir mais claramente na convivência com o marido e filha adolescente. As outras duas que parecem estar alheias, em dado momento fogem daquele convívio preferindo acreditar que longe da mãe poderão viver outra realidade (doce ilusão). Em dado momento Bárbara se confronta com a mãe e é como se olhasse a si mesma num espelho. A partir dali ela tem a opção de seguir adiante ou continuar reproduzindo o padrão.

Para mim o ponto alto do filme é uma conversa entre as mulheres da família, mãe e filhas. A mãe revela como fora tratada por sua própria mãe quando mais nova, deixando claro que estava sendo fiel à forma que aprendeu de se comunicar. Uma pena que as filhas não podiam naquele momento intervir junto a mãe para que ela não tivesse mais a “necessidade” de reproduzir o que aprendeu. Como em qualquer família, quando estamos dentro do sistema, é difícil ter um olhar observador de fora e compreender as razões que movem os comportamentos de cada membro familiar.

Já o filme Nebraska, mostra uma outra possibilidade. Retrata uma família, com pais idosos e dois filhos homens. Ao meu ver é uma ótima reprodução do impacto do envelhecimento dos pais em uma família. Como cada um reage aos sintomas, próprios da idade ou provenientes da própria história de vida de cada um. O patricarca aqui é alcoolista, mas isto fica em segundo plano. O que fica escancarado é uma matriarca crítica e destrutiva com as palavras (opa, outra Meryl Streep?) e um senhor idoso, Woody Grant (Bruce Dern), que parece alheio ao que ocorre ao seu redor mas que busca um sentido em resgatar um prêmio de loteria. No decorrer da história o filho David (Will Forte), compromete-se a ajudar o pai. Ele é criticado a maior parte do tempo, por ambos os pais, e nenhum esforço que ele faz é perceptível àquela família.

Mas a trajetória dos dois rumo a buscar o prêmio é bem interessante. Principalmente quando participam de um encontro familiar. E aí mais uma vez a nitidez de padrões comportamentais que vão se reproduzindo é impressionante. Todos da família de Woody falam a mesma língua e do mesmo modo. Ou seja, o que parecia um jeito distante de ver as coisas, era próprio da família. E todos se entendiam daquela maneira.

O mais interessante, é que diferente da personagem de Julia Roberts que não conseguiu vislumbrar uma aceitação e reconciliação com sua mãe, é simplesmente linda a maneira como age David em relação aos pais. Ele compreende a maneira com eles escolheram viver e se comportar e aceita. Ele mostra ao pai, de maneira simples, seu afeto e preocupação, apesar de todas as críticas e desmerecimentos contínuos. Não há uma cena linda de abraço e perdão entre pai e filho, e nem precisava!

David, diferente de Bárbara, ressignificou sua história, seu legado. Sem cobranças, apenas aceitação. Deu um belo exemplo que podemos aceitar nossa história, sem julgá-la, e o melhor, sem precisar repeti-la. Se o filme continuasse, gostaria que mostrasse David iniciando sua própria família e conseguindo criar seus próprios padrões de se comunicar e atuar nela. Mas este é um final feliz que fica no imaginário, pois não há final... e o feliz, bom isso é por nossa conta!