domingo, 5 de abril de 2009

Incentivando a Liberdade


A princípio pensei em comentar sobre o filme Entre os Muros da Escola (Entre les Murs) que foi o vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2008. O filme retrata a realidade do sistema educacional na França. É um filme denso e que muito incomoda a quem assiste. Bom filme, mas prefiro falar de outro... O filme Escritores da Liberdade (Freedom Writers) que também é baseado em fatos reais. Não ganhou nada, e nem é Francês, mas transmite uma mensagem humanista e nos mostra como é possível transformar a vida de pessoas que já não acreditavam mais nelas mesmas.

O filme conta a história de uma professora novata que luta contra um sistema de pré-conceitos e valoriza alunos de diferentes etnias. Ela promove a integração dos diversos grupos e incentiva a leitura e expressão de sentimentos de seus alunos. As mudanças de comportamento realizadas pela professora Erin Gruwell em sua turma, demonstram como o comportamento assertivo é capaz de realizar transformações para melhoria de vida do individuo. O comportamento assertivo disponibiliza um novo repertório de comportamentos que irão possibilitar ao indivíduo modificar o seu comportamento e o ambiente em que vive. Os alunos de Erin Gruwell estavam acostumados a lidar com a realidade através do uso da violência, mas aprenderam que é possível lidar com ela através do conhecimento.

Gostaria de refletir alguns aspectos do filme, à luz da Análise Comportamental dos sentimentos. No início do filme, os alunos se apresentam de forma hostil uns com os outros e também com a nova professora Erin Gruwel. De acordo com Guilhardi (2002), “para entender as ações das pessoas e os sentimentos que acompanham tais ações, é necessário voltar um pouco atrás e localizar os eventos antecedentes que produziram simultaneamente os comportamentos e os sentimentos.” (*)

Com isso, podemos associar os comportamentos hostis que uns alunos manifestam em relação aos outros, com as contingências coercitivas que são presentes na vida de cada um deles. Até aquele momento, não havia alguém em suas vidas, que promovessem os sentimentos de auto-estima, responsabilidade e auto-observação, utilizando reforçamento positivo. O que percebemos, é que até aquele momento, a história dos alunos era construída, por punição e coerção.

Com a entrada da professora Erin Gruwel na classe, o sentimento dos alunos começam a se modificar, a partir da mudança de seus comportamentos. A professora começa uma valorização intensa do potencial de cada um, reforçando positivamente, seja por meio de elogios ou incentivos.

A professora percebe que devido aos grandes problemas enfrentados por cada aluno em suas vidas pessoais, ela inova seu método de ensino para incentivá-los a estarem ali. Ela entrega aos alunos cadernos, para que eles possam escrever sobre os aspectos e conflitos de suas vidas. Isso promove nos adolescentes, o sentimento de auto-observação, já que eles passam a escrever suas histórias, e entender melhor sobre suas próprias vidas e sentimentos.

Guilhardi (2002, p.96), escreve sobre a importância do papel desse sentimento:
“É fundamental que a pessoa aprenda a observar seus comportamentos e o contexto em que eles ocorrem: os antecedentes e as conseqüências que eles produzem. Só desta maneira a pessoa pode se tornar um agente ativo de sua própria vida, utilizando o potencial de poder se comportar como instrumento de ação para a transformação do ambiente. Os comportamentos de observar precisam ser aprendidos e essa tarefa cabe à comunidade verbal em que o indivíduo se desenvolveu e está inserido.” (*)

Erin, também auxiliar o comportamento de auto-observação em seus alunos, ao determinar que eles leiam o livro “Diário de Anne Frank”. Com isso, ela tenta promover que os alunos se respeitam uns aos outros, praticando a tolerância, para que guerras e conflitos possam ser evitados.

Em outros momentos, a professora ajuda que os sentimentos de Auto-Estima se desenvolvam em seus alunos, com reforço positivo a determinados comportamentos. Quando Erin propõe que os diários dos adolescentes, sejam transformados em livros, ela está apoiando, incentivando, reforçando o comportamento deles de escrever, e principalmente, valorizando o que eles escreveram.

Até aquele momento, os adolescentes não eram valorizados em nenhum comportamento que exprimiam, mesmo porque, eles estavam cercados por contingências punitivas e coercitivas. Guilhardi (2002) explica, que “a auto-estima é o produto de contingências de reforçamento positivo de origem social”. Como os pais da maioria dos adolescentes não conseguiram desenvolver esse sentimento de auto-estima, coube a professora Erin Gruwell essa tarefa, que ela realizou com brilhantismo.

O filme Escritores da Liberdade, merece ser visto. Aos analistas de comportamentos, o filme oferece possibilidades e ilustra como se dá a promoção de reforçamentos positivos, ao invés da utilização de punição e coerção. Além disso, o filme retrata como o processo educacional nas escolas pode influenciar positivamente na vida dos jovens. Podemos lembrar do mestre Carl Rogers com sua idéia de uma educação Centrada no Aluno, na qual o professor não é o sabe tudo, e os alunos não são apenas objetos do processo de aprendizagem.

A professora Erin Gruwel, mostrou que não é necessário manter padrões para que o sistema funcione, pelo contrário, ela mostra que a inovação é necessária de acordo com as exigências de cada turma. Sendo assim, o filme torna-se essencial para inspirar professores e educadores, com o intuito de que haja uma melhoria nos sistema educacional adotado, e para que os jovens sintam-se motivados a estudar.

A exemplos de Carl Rogers, Paulo Freire, Augusto Cury, e outros, que o foco da educação, seja antes as pessoas, do que apenas agregar conhecimentos.


(*) GUILHARDI, Hélio José. Auto-estima, autoconfiança e responsabilidade. In: BRANDÃO, Maria Zilah da Silva (Org.) Comportamento Humano: tudo (ou quase tudo) que você gostaria de saber para viver melhor. Santo André: ESETec Editores Associados, 2002, cap. 4, p. 63-98.

Mandamentos do Conselheiro Educacional
Eric Troncoso e Anita Repeto - Chile

1.Aceitarás a todo ser humano como a parte mais digna de sua própria natureza.
2.Não criarás expectativas teóricas acerca da perfeição humana.
3.Aceitarás o significado que o outro soube outorgar à sua própria existência.
4.Estarás disposto a tratar a cada ser e a cada coisa segundo seu uso ou segundo seu fim natural.
5.Te esmerarás por entender a realidade tal como é sofrida ou gozada pelo outro.
6.Estarás disposto a aceitar os modos de ser próprios e alheios com ânimo positivo.
7.Não mentirás, nem te mentirás.
8.Revelarás o que decidas revelar de ti, com simplicidade.
9.Crescerás em obediência à melhor opinião de tua própria natureza.
10.Honrarás em cada ser humano a dimensão de bem que espera de si, e chamarás a essa relação: empatia.