domingo, 20 de dezembro de 2009

Um olhar sobre a saúde mental

Enfim O Solista (The Soloist) chegou aos cinemas de Belo Horizonte em 11/12/09. Vi o trailler desse filme em agosto ou setembro e fiquei ansiosa para assisti-lo por tratar-se da história real de um músico de talento, Nathaniel Ayers, que tornou-se um sem teto. Em dado momento Nathaniel revela uma esquizofrenia e não consegue mais "viver no mundo real".O filme é belo. Para quem gosta de boa música e para quem aprecia o "mundo dos loucos". Esse ano eu aprendi muito a apreciá-lo e respeitá-lo. Por isso gostei do filme. As críticas não tem sido boas, tanto que o filme custou a chegar em Belo Horizonte, e na segunda semana já está se despedindo.... Talvez possa ser meio clichê.. previsível talvez... mas a forma como a saúde mental foi abordada foi muito bacana.

O jornalista Steve Lopez que se torna "amigo" de Nathaniel (talvez mais interessado do que amigo no início) tenta curá-lo. Ele deseja que o músico seja novamente escutado, que todos ouçam seu talento musical... Mas ele não pergunta a Nathaniel qual o seu desejo... Este apenas quer tocar seus instrumentos para viajar em sua bela música, que de certa maneira o traz de volta ao "nosso mundo"...

O fato que seu mundo é real para ele. Ele não quer sucesso e reconhecimento pois "as vozes" não o deixam em paz. Então porque não ficar em um túnel onde a acústica para escutar sua música é muito melhor? O filme nos traz a realidade que nos apresenta hoje.. as pessoas querem tratar os loucos e trazê-las para realidade.. mas não querem estar ao lado delas, entender o próprio mundo na qual elas vivem, simplesmente ouvi-las. O trabalho que fiz no Cersam esse ano me deu essa nova perspectiva. Claro que a medicação é importante, até para protegê-los de cometer algum ato que os prejudique ou aos outros... mas não é só isso.... A medicação muitas vezes apenas abranda os sintomas, mas aquela nova realidade criada continua e é ela que precisamos entender...

Pude entender melhor da luta antimanicomial. Não é simplesmente um discurso para "libertar os loucos e deixar eles livres pela cidade..." como alguns leigos pensam... É humanizar o sistema. Essas pessoas vivem em mundos diferentes aos nossos e por isso eles nos assustam.. Eles saem do padrão! Se enclausurados em hospitais psiquiátricos vão se afundar em caminhos sem volta, pois perdem os laços sociais. Por isso a idéia dos Cersams ou Caps é tão importante! Eles vão até lá fazem atividades, participam de oficinas, podem conversar uns com os outros, estabelecer laços, tudo isso se quiserem é claro, e voltam para casa no final do dia. Eles têm a escolha. Podem ir e vir. Não são afastados do convívio social, e mesmo se criam uma realidade a parte, eventualmente se deparam com a nossa e aceitam isso também....

Pois então, antes de rotular ou julgar alguém de Louco, ou pior, dizer: Coitadinho é doido... Pensem em quanto lutamos para ficar normais, dentro do padrão e isso as vezes nos deixa doentes... Não são coitados, são pessoas que também fazem escolhas, apenas são diferentes, como todos somos uns dos outros... Talvez devêssemos aprender a respeitar mais as diferenças, afinal quem são os loucos? Talvez haja um limiar no qual todos nós estamos sujeitos a loucura, só não sabemos qual é....