quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Reflexões sobre Touro Ferdinando: aceitação, crenças e tradição


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TOURO FERDINANDO TRAZ REFLEXÕES SOBRE ACEITAÇÃO E QUESTIONA CRENÇAS

Crenças enraizadas podem nos levar a não aceitação do novo

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A animação Touro Ferdinando, baseado no livro infantil de 1936, "Ferdinando, o Touro", do americano Munro Leaf e ilustrado por Robert Lawson, é mais um dos candidatos ao Oscar 2018 que promove belas reflexões sobre o universo humano. Nesta animação, na qual os animais são os personagens principais, o protagonista Ferdinando nasce diferente dos outros. Não em aparência, mas em personalidade. Diferentemente dos outros touros, ele não quer lutar e não gosta de violência. Com este simples gesto, introduz um questionamento de crenças e padrões arraigados que são repetidos ao longo das gerações como se fossem o único caminho. Porém, o nosso protagonista traz uma nova perspectiva.

 O Touro Ferdinando revela desde o início que é pura bondade e gentileza com todos os seres vivos e ama flores. Durante a história, Ferdinando, passa um tempo mostrando toda sua sensibilidade mesmo se tornando um grandalhão. Contudo, as partes mais tocantes e reflexivas são justamente aquelas nas quais ele se depara com o preconceito das pessoas e também dos da sua própria espécie. Todos que o olham deduzem que deve ser igual a qualquer touro, feroz e pronto para atacar. Em contrapartida, os outros touros o consideram um covarde. Ferdinando precisa mostrar quem realmente é, e que tudo bem ser diferente.

 REFLEXÕES SOBRE ACEITAÇÃO

 Uma das reflexões gira em torno da aceitação e aceitar que, mesmo os da mesma espécie, possuem suas individualidades e peculiaridades. Ao olhar para o outro, automaticamente, o julgamos a partir da nossa ótica. Esta atitude, na maioria das vezes, é intrínseca a qualquer ser humano. Entretanto, precisamos permitir que o outro nos mostre quem ele é, não preencher a mente de preconceitos que irão impedir de ver e conhecer o outro tal como é.

 Não precisamos ir muito longe para perceber o quanto precisamos caminhar para aceitar as diferenças com mais amor e compaixão. Não fazemos isso, muitas vezes, nem conosco.

 A humanidade não está apenas em ser um humano e já vimos ao longo da História o que os homens são capazes de fazer para ter a razão, conquistar territórios e lutar pelo poder. Conviver em harmonia implica aceitar o outro tal como é, incluindo-o em nosso contexto e respeitando sua singularidade. 

CRENÇAS ENRAIZADAS

 Entretanto, além da aceitação, a animação aborda algo ainda mais intrigante. A forma como lidamos com nossas crenças mais enraizadas. Mesmo que todos de sua linhagem familiar sejam de uma maneira, não deve ser isso a determinar quem você é. As crenças mantêm um padrão que gera medo da mudança. Como ser um Touro bondoso é possível para os outros Touros que sempre conheceram apenas as lutas e as touradas? No filme, a mudança de um padrão enrijecido e mantido por gerações causa temor aos animais, inclusive da própria morte. Ao mesmo tempo, são estas mesmas crenças mantidas a décadas que os levam sempre para o caminho da destruição e do abate, ainda que não seja o seu sonho.

 Uma das cenas do filme é bem ilustrativa quanto ao poder das crenças enraizadas, quando há uma triste comparação: Ferdinando se depara com uma parede recheada de fotos de Touros que morreram nas arenas e, em outro momento, o Toureiro se vê diante de uma parede similar com toda uma linhagem anterior de Toureiros vitoriosos retratada nas fotos.

 Uma reflexão similar também cabe a nós, em nossa lealdade familiar. Muitas vezes não ousamos questionar as regras ou comportamentos uma vez que todos os nossos antepassados agiram de forma parecida. Deixar de seguir um padrão, seja profissional, social ou de relacionamento afetivo, pode nos trazer a sensação de que seremos abatidos.

 A MORTE SIMBÓLICA DOS NOSSOS SONHOS REAIS

 Afinal, toda a vida anterior se deu a partir daquele comportamento padrão e atitudes repetidas de geração em geração. Entretanto, é justamente seguir esse padrão que nos causa, muitas vezes, a morte simbólica de nossos reais sonhos, desejos e talentos únicos.

 Muitas vezes estamos tão imersos e presos a nossos padrões que não vemos outra saída a não ser continuarmos agindo da mesma forma conhecida de sempre. Mesmo que traga sofrimento e dor é algo conhecido e portanto mais confortável do que o terror daquilo que desconheço. Ferdinando era visto como medroso, contudo foi o touro mais corajoso por sustentar seus ideais e sonhos de ser ele mesmo até as últimas consequências da escolha.

 Assim como Viva - A Vida é uma Festa, da Pixar, essa é uma animação feita para crianças que nos leva a reflexão de gente grande. É ótimo que os pequenos possam ter a possibilidade de refletirem sobre a importância da aceitação das diferenças e de seguir seus sonhos e talentos mesmo que isto os torne diferentes do grupo. Cabe aos adultos fazerem seus próprios questionamentos e propiciarem às crianças um momento de diversão recheado de mensagens importantes para um desenvolvimento mais saudável na sua vida.


Artigo originalmente publicado em Personare

sábado, 17 de fevereiro de 2018

VIVA - A VIDA É UMA FESTA: QUANDO PERTENCER É MAIS IMPORTANTE QUE UM SONHO

Para avançar, às vezes precisamos revisitar o nosso passado

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O garoto Miguel tem um sonho muito simples: ser músico. Contudo, ele nasce numa família na qual a música foi banida devido a uma ocorrência do passado. Seguir a música é uma ofensa e vai contra toda uma geração familiar. O garoto de apenas 12 anos deve escolher entre romper a tradição familiar e deixar um grande sonho de lado.

Este é o pano de fundo desta nova animação da Pixar, candidata ao Oscar 2018 como melhor longa de animação. "Viva - A vida é uma festa" (Ou Coco, no nome original em inglês), aborda com sensibilidade e bom humor grandes questões familiares. A animação ajuda a refletir como a exclusão de um membro da família pode repercutir em futuras gerações, gerando impasses quanto a pertencer ao grupo, sendo leal às tradições, ou construir seu próprio caminho, correndo o risco de ser banido do sistema familiar.

SEGUIR O SONHO OU A TRADIÇÃO?

A tradição da família de Miguel é fazer sapatos. É assim com sua mãe, sua avó e foi assim com sua bisavó e tataravó - quem começou esta longa tradição. Contudo, este padrão tem sua origem a partir de uma grande perda, o que torna a tradição praticamente uma maldição. Assim como na animação, podemos nos deparar com impasses em algum momento de nossa existência dentro de nossas próprias famílias.

Questões como seguir a mesma profissão dos pais ou escolher algo diferente e assumir a empresa da família ou abrir o próprio negócio são comuns. Talvez, nossos familiares não sejam tão intensos como os de Miguel, a ponto de fazer de tudo para manter a tradição. Mas, inconscientemente, podemos sentir esta cobrança sobre nós.

A decisão de seguir ou não o sonho é um trabalho interno. Racionalmente, podemos estar bem resolvidos com a questão, mas o registro no inconsciente é de que a tradição deve ser seguida. Alguns processos de autossabotagem podem nos impedir de ir contra esse sistema familiar. Afinal, negando a tradição, se é excluído do grupo.

PERTENCER AO INVÉS DE SEGUIR EM FRENTE

Todos querem pertencer. Está é uma das leis do método de terapia Constelação Familiar. O pertencimento é a base da lealdade familiar. Ou seja, eu desejo pertencer ao meu sistema familiar e, de forma inconsciente ou não, serei leal aos padrões familiares custe o que custar, mesmo que custe caro. Muito sofrimento e sintomas podem ser gerados a partir de destas lealdades invisíveis.

Como nosso protagonista Miguel, que é um grande talento musical e sofre por estar sozinho e ter que esconder-se da família. O menino, inclusive, arca com as consequências da maldição de sair dos padrões, mas sempre na tentativa de obter o apoio da família. Um erro comum é querer romper com a família para ter a autonomia tão desejada, pois é uma ação que pode ter efeitos opostos para as futuras gerações.

EXCLUIR ALGUÉM PREJUDICA TODA A FAMÍLIA

Miguel tinha um tataravô músico que foi banido do sistema. Independente do motivo que causou sua exclusão, este fato repercute nas gerações futuras até chegar ao protagonista. Ele é quem vai tentar, de alguma maneira, dar voz ao tataravô excluído.

Neste aspecto, o filme faz um paralelo ao que ocorre na vida real. As crianças muitas vezes são um porta-voz do sistema. Elas podem manifestar sintomas ou comportamentos diferentes como uma maneira de trazer à tona aqueles que foram excluídos no passado. Não só as crianças, como qualquer membro da família, pode estar vivenciando a dor de um excluído do passado sem saber o que está ocorrendo.

O grande problema é que isso tudo é inconsciente. Dificilmente nós olhamos para o passado para encontrar a solução para algo que ocorre aqui e agora. Muitas vezes, este olhar de inclusão é suficiente para alterar todo um sistema disfuncional. O inconsciente familiar tem grande força e membros dessa família que foram excluídos podem ficar como fantasmas, tentando serem vistos. Afinal, eles também querem pertencer.

PERTENCER E SER DESLEAL AO SISTEMA

O garoto Miguel não desiste facilmente de seu grande sonho. Seu maior desafio, entretanto, é encontrar algo, ou alguém, que o ligue à família, que o faça continuar pertencendo ao grupo, mesmo quebrando uma antiga tradição que é fazer sapatos.

Essa é uma boa dica para nos mantermos ligados ao grupo familiar: "constelar" nossos sentimentos e angústias. Ao fazer a terapia de constelações familiares podemos obter informações do inconsciente em busca de conexões com os familiares ou antepassados. Muitas vezes bastará um ato simbólico ou uma conversa com algum familiar que traga revelações do passado, junto a outras elaborações em processo terapêutico, para trazer um alívio e um retorno do sentimento de pertencimento.

Muitas vezes, quando investigamos gerações anteriores em nossa família, encontramos, aquele algo que nos faltava e que nos fazia ser tão diferente. E, mesmo que isto não ocorra, é possível pertencer mesmo sendo desleal há alguns padrões. Caso contrário, também privamos as futuras gerações de fazerem novas escolhas.

A lealdade aos pais, avôs e parentes é uma construção do inconsciente. Da mesma forma que incluir alguém de novo no sistema não significa concordar ou perdoar as suas atitudes. Ser desleal aos antigos padrões pode significar uma lealdade consigo mesmo e com as futuras gerações, desde que você não se exclua da família.

Assim, esta bela animação pode nos fazer refletir sobre os sonhos esquecidos ou deixados de lado. Muitas vezes, ficamos procurando as soluções no futuro, mas basta um olhar mais apurado para o passado para entendermos melhor o que nos impede de avançar. Parece que a magia do cinema está mais perto do que imaginamos.


Texto originalmente publicado em Personare

QUANDO DESEJAR DEMAIS AFASTA A REALIZAÇÃO DOS SEUS SONHOS



A ‘arte de soltar’ e deixar a vida acontecer




Você já deve ter percebido que há momentos em que nada parece dar certo. Aquela promoção que você tanto deseja e que nunca acontece, aquele relacionamento sério que não se firmou, a sonhada casa própria que ainda está distante ou ainda uma mudança total de vida, que por mais que você tente, simplesmente não se realiza.

Diante dos impasses, é comum tentar resolver essas travas e buscar ferramentas, exercícios, cursos ou livros que possam auxiliar de alguma forma a realizar esses sonhos, traçando metas e usando métodos. Contudo, por mais que se tente, a ansiedade e o medo de não conseguir podem atrapalhar o processo de realização. Para resolver esta questão os olhares precisam se voltar para dentro e não para fora.

COISAS BOAS DE REPENTE ACONTECEM ...

Vamos pensar de um outro prisma, em algo que você conseguiu. Qualquer coisa é válida: uma vaga boa num estacionamento, uma ideia para seu projeto ou trabalho, ou até mesmo ter alguém bacana ao seu lado. Talvez você perceba que aquilo que queria e alcançou não era algo desejasse muito naquele momento, apenas aconteceu.

Você já deve ter ouvido falar ou vivido situações como estas:

-A pessoa estava curtindo a vida de solteira (o) e, de repente, num Carnaval, conheceu o amor da sua vida;
-Quando alguém desistiu de mandar currículos para vagas de emprego, recebeu uma proposta;

O que estas situações aparentemente têm em comum? O foco não estava totalmente voltado para o sonho ou o resultado. Essa "desistência" acaba fazendo com que afrouxemos a pressão sobre o desejo e o que queremos acaba então acontecendo.

FOCAR NO DESEJO AUMENTA A PRESSÃO

Imagine que você entra em um restaurante, escolha sua refeição e faça o pedido. O que você faz em seguida é ficar conversando ou se entretém com alguma coisa até seu prato chegar. E ele chega na hora que está pronto, correto? No momento certo.

Agora, imagine a mesma situação e, ao invés de você sentar e esperar, fica chamando o garçom a cada minuto para perguntar se já estão providenciando seu pedido, ou aciona o cozinheiro todo o tempo para saber como anda o processo. A esta altura, o pedido talvez nem chegue e você pode ser, inclusive, convidado a se retirar do local.

É como plantar uma semente para crescer em uma horta na sua casa. Você não precisa, todos os dias, tirar a terra de cima para ver se ela está crescendo mesmo. Além de demorar a crescer a planta pode até morrer. Essas pressões, devemos evitar.

A CULTURA DE CORRER ATRÁS

Aprendemos que devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para resolver um problema ou conseguir o que queremos. Consumimos livros, vídeos e textos motivacionais em busca de alguma fórmula mágica. Os recursos existem, e há várias técnicas e exercícios propagados por livros, youtubers e sites de autoconhecimento.

O erro é pensar que, usando esses recursos e ferramentas, será mais fácil realizar o sonho. Em boa parte das vezes, o resultado nem sempre sai como desejado. Há quem sinta que as coisas pioram e que a meta fica mais distante. Então, pode-se cair no erro de culpar esses métodos de sucesso e decretar que nada funciona para você ser feliz.

Vivemos em um universo de infinitas possibilidades. A realidade na qual vive, de alguma maneira, mesmo de forma inconsciente, você a criou. Por isso, há tantas técnicas que ensinam a visualização criativa como forma de realizar o que desejamos, e filmes como "O Segredo" e "Quem somos nós?" ganharam muitos seguidores e praticantes. É mesmo fascinante a possibilidade de criarmos o que desejamos.

Mas, já que quero tanto, por que não consigo? Esta pressão deriva da ansiedade em conquistar o que queremos. E este é o grande problema, para o qual a solução é uma só: soltar.

Foi exatamente isto que ocorreu nos exemplos positivos anteriores. Tiramos o foco daquilo que queremos, "desistimos" e conseguimos. O universo funciona assim.

A ansiedade, o medo da falta, a insegurança, o "não vou conseguir", só fazem bloquear todo o processo. A saída é fazer o pedido e soltar. O sonho virá. A planta irá crescer em seu devido tempo. E, com este sentimento de entrega, todos os recursos que mencionei lá atrás vão lhe auxiliar no processo de esforço e conquista do sonho.

EFT E HO'OPONOPONO

Soltar é uma das chaves para chegar aos nossos sonhos. Esse desapego seria muito simples, se não fosse a complexidade de aprender algo que nunca nos foi ensinado.

Neste processo, as técnicas de EFT (Emotional Freedom Techniques) e Ho'oponopono podem ajudar a lidar com a ansiedade e a autossabotagem que isso gera nos seus planos. A EFT ajuda a trazer à tona sentimentos, sensações e lembranças relacionadas que vão gerando as repetições nocivas de comportamento. O apego e a dificuldade de soltar e deixar acontecer fazem parte destas recordações.

O Ho'oponopono é uma oração de cura havaiana, que consiste em dizer quatro frases continuamente. Ele se alia perfeitamente com a ideia da EFT. O Ho'oponopono parte do princípio de que somos guiados por milhares de memórias negativas que vão se reproduzindo em nossa vida de forma inconsciente. O objetivo é limpar e purificar todos esses registros até chegarmos ao nosso estado inicial que é de puro amor.

Na questão que abordamos aqui, o sintoma seria não conseguir aquilo que almejamos. Você pode notar que surgem memórias de ansiedade, apego, ou outras crenças limitantes de não merecimento. É possível, porém, fazer uma ressignificação e limpar a carga negativa unindo estas duas ferramentas.

UMA VIDA MAIS LEVE

O processo de limpeza ajuda a liberar os traumas e "soltar" vai ficando cada vez mais simples. Contudo, não podemos esquecer que estas ferramentas devem ser utilizadas como um recurso complementar ao seu processo, mas não com o único meio de obter êxitos. Caso isso ocorra, cria-se uma expectativa exagerada, que pode novamente provocar o efeito contrário e, de novo, nos afastar dos nosso sonhos.

A ideia principal é aprender que todos os seus desejos podem se tornar reais, mas não são eles que farão de você alguém mais feliz ou mais completo.

A proposta é de ser feliz agora e estar em paz com as suas escolhas e com quem você é hoje mesmo.

Com isso, vivemos uma vida mais leve, pois aprendemos a entrar no fluxo do universo e nos sentir gratos e merecedores de tudo de melhor que a vida pode nos oferecer.


Texto originalmente publicado em Personare