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sexta-feira, 4 de novembro de 2022

SAÚDE MENTAL: COMO SABER SE A MINHA ESTÁ EM EQUILÍBRIO?

Saiba quais são os indicadores de alerta que é hora de cuidar da sua saúde mental.



Saber se a saúde mental está em equilíbrio tem sido uma dúvida cada vez mais comum. Afinal, a vida precisa ser vivida com leveza e, para isso, precisamos nos sentir bem emocionalmente. 


Mesmo diante de problemas e desafios da vida é possível manter a estabilidade e lidar com as dificuldades dentro do possível. Assim, os excessos emocionais podem indicar, junto a outros fatores, que algo não vai bem com sua saúde mental e talvez esteja na hora de procurar uma ajuda profissional.


A seguir, vamos falar sobre os possíveis indicadores que sua saúde mental não está bem, e como fazer para reestabelecer o equilíbrio. Quer saber mais? Confira tudo! 


Saúde mental: indicadores físicos


Fique atenta (o) se você vive em volta de sintomas. Quando um sintoma vai dando lugar a outro é um alerta de seu corpo que algo precisa de atenção. A grande maioria dos sintomas tem raiz emocional e, aqueles que não tem, podem se relacionar a traumas vividos ao longo da vida, e que ficam registrados no corpo.


No caso de questões somáticas advindas de traumas, o ideal é buscar um profissional específico da área. Muitos acreditam que precisam conviver com dores crônicas ou sintomas repetitivos e isso vai gerando um turbilhão de sentimentos relacionados à impotência de se fazer algo a respeito. Com isso, a saúde mental é prejudicada por algo que precisa ser trabalhado e liberado no corpo.


Você sabia que até o excesso de cansaço físico e mental pode ser resultado de questões de desordem sistêmica onde você assume papéis e lugares que não são seus? Mesmo quem trabalha muitas horas seguidas pode terminar o dia mais leve se estiver exercendo apenas a sua função, sem se emaranhar em problemas alheios.


Indicadores emocionais


Nenhum sentimento em excesso é natural. Todo o excesso implica uma falta. Viver em estado constante de tristeza, raiva e medo é um alerta de que, provavelmente, a sua saúde mental não está em equilíbrio.


Contudo, é importante lembrar que todos os sentimentos fazem parte da existência como humanos. Por isso, eles devem ser acolhidos e vividos quando surgem. Agora, se todos os dias a tristeza te acompanha, assim como os pensamentos negativos, gerando dores e sintomas, já passou da hora de buscar ajuda. Isso vale para qualquer emoção. 


É bom ficar atenta (o) ao que as pessoas a sua volta dizem se te veem frequentemente triste ou com raiva. Perceber se faz sentido e reconhecer o excesso de sentimentos é o primeiro passo para a cura.


Indicadores comportamentais


Perceba como age diante da vida, nas relações pessoais e familiares. Comportamentos impulsivos, junto ao excesso emocional, vão indicar que a saúde mental pode não estar bem. 


Brigas constantes e agressividade gratuita precisam ser percebidos e investigados. No outro extremo, se isolar do contato social e evitar vivenciar situações prazerosas e divertidas também são sinais de alerta.


Torna-se importante esclarecer que nada disso é bom ou ruim, certo ou errado. Sair destes rótulos é essencial para que o primeiro passo seja acolher tudo o que ocorre. 


Alguém que sempre agiu muito passivamente pode começar a explodir mais frequentemente com os outros com a intenção de estabelecer limites. A agressividade saudável é importante, mas é possível equilibrar as emoções para que possam ser melhor expressadas.


Indicadores sistêmicos


Sabe aquela depressão que toda a família tem? Alguns sintomas físicos ou emocionais que vão se repetindo ao longo de gerações podem simbolizar problemas sistêmicos. E unindo todos os outros indicadores, todo esse excesso pode nem ter relação com você, mas sim ser fruto de sentimentos adotados de algum outro lugar ou pessoa do seu sistema familiar. 


Neste caso, se você já buscou ajuda de alguns profissionais, mas não obteve resultado, pode ser que uma psicoterapia na visão sistêmica ou constelação familiar lhe ajude de forma mais efetiva.


Como melhorar a saúde mental?


Buscar ajuda profissional é sempre a melhor opção quando o assunto é saúde mental. O apoio de um especialista é necessário quando você, mesmo sozinha (o), buscou acolher suas emoções mas não teve êxito. Alguns acreditam que apenas ler livros ou ver vídeos sobre o tema é suficiente. Certamente pode te ajudar nas percepções, mas há um limite.


Principalmente quando se trata de problemas sistêmicos ou traumáticos, a ajuda de um profissional específico ou que seja hábil em ambas é essencial. Como psicóloga sistêmica, percebo que a visão do sistema como um todo, junto aos conhecimentos de traumas e experiência somática, auxiliam em um olhar mais integral dos meus clientes.


Nem tudo é proveniente de assuntos não resolvidos com família de origem ou lealdades inconscientes até para repetir um sintoma. Mas, se for o caso, o olhar sistêmico é fundamental! 


Contudo, alguns traumas que são vividos ao longo da vida, inclusive no próprio nascimento, podem desencadear uma série de problemas que vão dificultar que a saúde mental esteja em equilíbrio. Dessa maneira, precisam de espaço para serem liberados do corpo. Em muitos casos, todas as questões anteriores atuam juntas, o que torna-se ainda mais fundamental a busca do profissional capacitado.


Ou seja, o primeiro passo é que você deve sempre perceber que o natural da vida é fluido e leve, e se o seu cotidiano traz a vivência contrária, é preciso acolher e buscar a ajuda mais apropriada. 


Maria Cristina Gomes

Psicóloga

mariacristinapsi@yahoo.com.br


Texto originalmente publicado em www.personare.com.br 

sexta-feira, 11 de junho de 2021

Papel da mãe: significado na Constelação Familiar




A mãe exerce papel fundamental em nossa história. E este é um dos motivos onde esta relação, é a causa de 80% dos problemas que levam às pessoas aos consultórios de psicologia. Há muitas nuances, pois sistemicamente nunca olhamos para uma causa e um efeito. Mas é fato que o papel da mãe é de extrema importância para o fluir da vida em todas as instâncias. 


Entenda como a visão sistêmica da constelação familiar pode lhe auxiliar a compreender essa importância e saiba como pode trazer leveza para sua vida tomar a mãe no coração e seguir em frente. 


Papel da mãe: significado na Constelação Familiar


“Toda relação começa com a mãe.” Esta frase de Bert Hellinger dá o tom da importância da mãe na vida de cada ser. A maioria dos problemas surge quando algo ocorreu neste primeiro relacionamento, quando ele não se dá na plenitude. A importância primordial vem do fato de que foi ela quem gerou a vida que pulsa em você. Se você respira agora foi porque aquela mulher te alimentou e sustentou por alguns meses suficientes até você chegar à vida. A vida veio através dela em toda sua grandeza. Além disso, aquelas que puderam, sobreviveram ou seguiram mais um tempo, certamente alimentaram e cuidaram de você em suas necessidades básicas. Algumas podem não ter conseguido dar continuidade nos cuidados posteriores, mas ainda assim, o lugar dela é de honra e respeito. 


A constelação familiar vê a mãe (e o pai) como pessoas.Não trata-se de uma mãe ou pai ideais. Também não tem nada a ver com o que puderam dar, ou o que retiraram. Tomar a mãe é concordar com um fato, reverenciar a vida que veio por meio dela. Você toma a pessoa e na medida que faz isso, tem a vida em sua plenitude. A partir deste simples ato, o sucesso profissional pode chegar e os relacionamentos podem ser mais leves. 


Para Hellinger a compreensão da mãe é filosófica. Nada retira a grandeza da vida. Muitas coisas desafiantes podem ter ocorrido desde o nascimento até sua chegada na vida adulta. Questões e fatos que ficaram no meio de sua relação com sua mãe. Mas por mais desafiante e doloroso, a vida ainda é maior. É com ela pulsando que tudo é possível de ser ressignificado, reelaborado e reconstruído. Com este olhar, a mãe é perfeita em sua função e nenhuma mãe é pior ou melhor que a outra. Todas transmitiram a vida e a isso nada pode se acrescentar ou subtrair. 


Relação entre mães e filhas ou filhos


“A mulher só se torna mulher com a mãe. O homem só se torna homem com o pai.” Esta máxima da constelação costuma causar muitos questionamentos, contudo nela há um movimento natural do ser. Mais uma vez a compreensão vai além das questões ideológicas. É preciso voltarmos ao movimento essencial do ser. O feminino flui através do feminino, assim como o masculino fluirá através do masculino. Psicologicamente todos contemos o masculino e o feminino em nós. E buscar este equilíbrio é fundamental para bons relacionamentos. 


A relação da mãe e da filha costuma ser mais complexa. A mulher possui um papel mais desafiante, por isso ela torna-se também tão especial e fundamental para o fluir da vida no mundo. A menina precisa fazer um movimento de retorno à mãe que os meninos não precisam. Por volta dos 7 anos as crianças vão em direção ao pai internamente. Este movimento é importante para a psique das crianças. Lembrando que o movimento é interno, na alma ou inconsciente, não necessariamente uma atitude física pois nem sempre é possível. O pai têm um papel importante de conexão com a criança no mundo externo, social e profissional. Ele a leva para ver o mundo. Mas a menina precisa retornar para a mãe após um tempo para seguir com o feminino fortalecido em suas raízes. O menino deve seguir com o pai. Quando este movimento não ocorre, a menina prefere ficar com o papai e o menino se recusa a ir com o pai ou volta para a mãe, ambos podem ficar frágeis em suas relações afetivas posteriormente. Na constelação familiar chamamos de Filhinha do papai e Filhinho da mamãe.


A filhinha do papai, será aquela mulher que não achará um homem à altura do papai para se relacionar. Podem buscar o pai nos homens (ou pessoas parceiras) e como uma criança deseja ser cuidada e atendida em todas as suas necessidades. Poderá também apresentar muita rivalidade com a mãe. É uma falta de lugar na vida e pode ter uma insatisfação constante no trabalho e na profissão. 


O filhinho da mamãe, por sua vez, poderá sempre se envolver e seduzir muitas mulheres e nunca conseguir se estabelecer em uma relação séria. Um Don Juan por exemplo seria um bom exemplo de filhinho da mamãe. Ele também pode buscar uma mãe na relação e ficar dependente emocionalmente da parceira (o). 


No caso destas dinâmicas descritas uma das leis sistêmicas está sendo desobedecida, a lei da ordem ou hierarquia. Nela precisamos ser pequenos diante de ambos os pais respeitando a prioridade de chegada no sistema e reverenciando a vida que veio através deles. Os filhinhos da mamãe e filhinhas do papai geralmente estão grandes diante de um deles. Assim, não há leveza e em alguma área da vida algo não irá bem. Os pais podem reforçar estas dinâmicas nos filhos, que quando criança não possuem muitas defesas. Os filhos ficam entre os pais com esta postura. Mas ao se tornarem adultos cabe a cada um voltar ao seu lugar. 


Bert Hellinger descreve um exercício simples para esta dinâmica: Quem percebe que é uma filhinha do papai, olha para o seu pai e lhe diz, piscando o olho: “Sou apenas a sua filha. Para outro papel, sou pequena demais”. A mesma coisa faz o filhinho da mamãe com sua mãe. Olha para ela e lhe diz: “Sou apenas o seu filho. Para outro papel, sou pequeno demais”. Curiosamente, isso é um alívio para todos, inclusive para os pais.( Livro: Um lugar para os excluídos, 2006).


Vale ressaltar que não há nenhuma relação com orientações sexuais ou identidades de gênero. Aqui se trata do feminino e masculino em sua essência e existente em todos os seres humanos. E mesmo que os pais estejam ausentes física ou emocionalmente da educação e crescimento das crianças, o movimento é o mesmo e se dá internamente. O que ocorre é que talvez seja preciso uma ajuda profissional para direcionar neste caso, seja uma psicoterapia sistêmica ou uma constelação familiar. 


Como descobrir a relação com sua mãe


Para saber se você tem problemas em tomar sua mãe, olhe a sua volta e perceba se sua vida está travada em algum processo. O primeiro lugar onde visitamos é sempre a relação com a mãe. Em seguida vamos ao pai e aos que estão excluídos do sistema familiar. Segundo a lei do pertencimento, estamos ligados a todos os nossos ancestrais por vínculos inconscientes e nada nem ninguém pode ser excluído sem que o sistema sofra algum efeito. Assim, uma vida que não flui pode se relacionar com algo fora de ordem ou excluído, mas se a postura diante dos pais está de acordo com a ordem, a clareza para onde encontrar a solução fica maior diante dos desafios.


Se você tem muitas críticas e julgamentos contra sua mãe, isto pode se voltar contra você caso também opte pela maternidade. Se você é mãe e os conflitos com sua filha são grandes provavelmente há algo na sua relação com sua própria mãe que precisa ser revisto. Talvez queira ser uma mãe melhor e dar o que não teve. Parece uma intenção nobre e claro que é possível fazer diferente, mas não por ser melhor que a mãe, mas por ter mais recursos que ela mesma lhe propiciou. A geração anterior teve seus próprios desafios e já trazem um legado. Reconhecer isto não é justificativa para ações danosas, mas concordar com o passado para conseguir seguir em frente mais livre. 


Problemas de confiança nas relações amorosas também podem ter origem em dificuldades na relação com a mãe. Se quando criança sua mãe teve que se ausentar por algum motivo, saúde, outra gravidez, ou mesmo morte, você pode ter registrado um pequeno trauma da separação e isso trazer consequências em suas relações afetivas e sociais. O caminho é o mesmo, tomá-la no coração com tudo que foi do jeito que foi para seguir sua vida mais livre. 


As mães (ou pais) adotivos exercem um papel importantíssimo e ao mesmo tempo bem delicado. O êxito na adoção e na relação entre esta mãe e seus filhos e acolher no coração a origem da criança independentemente de qualquer ocorrido. 


Mãe narcisista: uma categoria ou rótulo?


Recentemente é comum escutarmos o termo Mãe narcisista. O Transtorno de personalidade narcisista (TPN), é um transtorno de personalidade catalogado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-IV. O fato da mãe ter ganhado notoriedade para este transtorno (você provavelmente não ouviu muito falar de pai narcisista) é devido a sua importância e influência na forma como conduzimos a vida adulta.  


A questão é: saber o diagnóstico da mãe lhe ajuda a compreendê-la com amor ou reforça uma postura de vítima em você? Claro que a postura da mãe (assim como o pai) provoca efeitos e alguns bem desafiantes. Mas sendo um transtorno, trata-se de um processo mental e que talvez não houvesse escolha consciente. Não trata-se apenas de um comportamento errado, mas de ser a única forma que aquela mulher sabia se comportar. Talvez houvesse motivos pregressos, lealdades inconscientes, ou mesmo questões biológicas e/ou genética. O fato é que se o diagnóstico dela não pode ser alterado, a sua postura diante dele pode. Talvez não seja fácil sem ajuda profissional para reconstruir e ressignificar, mas certamente é possível se você fizer uma escolha de seguir olhando para o futuro. 


Como superar as dores causadas pelas mães 


Costumo dizer que precisamos separar as instâncias. Dentro da mulher mora uma mãe e a relação que precisamos acertar é com esta. Afinal, a mulher traz sua bagagem que já existia antes de você. Suas dores e feridas estão todas lá. Mas ela deu à luz em algum momento e neste momento você tem a vida através desta mãe e isso deve ser colocado em primeiro plano. Não precisa ficar em um ambiente aversivo, com a tal mãe narcisista por exemplo, onde residem dores e mágoas. Pode se afastar, se possível, mas no coração a mãe precisa ir com você. A mulher pode até ficar para trás, mas a mãe que te gerou e alimentou precisa ser honrada. 


O que ocorre é que as culpas são carregadas. Se você acusa a mãe no coração, automaticamente age contra a lei da ordem e pode causar processos de autossabotagem como expiação. As pessoas se vingam inconscientemente da mãe sendo infelizes, assim podem justificar seu fracasso e continuar acusando a mãe. Não traz bons efeitos para ninguém e quem mais perde é você mesma (o). 


O passado não precisa definir quem você é. Você pode tirar a força que precisa de todos os desafios que vivenciou ou olhar para o que lhe faltou no processo. Se você acreditou que precisava carregar as dores da mamãe por amor a ela ou mesmo por elas terem sido depositadas em você, está na hora de devolver a quem de direito. Reconhecer que diante dela é pequena e que não pode carregar nada por ela. Este é um movimento que é feito no coração, sem acusações, apenas concordância do que foi para seguir livre. 


Dependendo do tamanho do dano ou dor causadas, o processo deve ser feito em um processo terapêutico por um profissional capacitado que irá acolher suas dores e te ajudar a ressignificar. Uma constelação familiar com um profissional de sua confiança também pode trazer a luz as questões envolvidas e lhe ajudar a liberar o que te aprisiona.


Saiba mais sobre a Constelação Familiar


A técnica pode ser aplicada em grupo ou individual, presencialmente ou online. Você leva ao constelador o tema ou questão que percebe ter dificuldades em solucionar e se coloca receptivo e centrado para as informações que surgirão no campo. O método é fenomenológico, então não há como prever o que irá surgir, é uma observação do que atua naquele momento. O campo mórfico funciona como um inconsciente coletivo onde todas as informações são “armazenadas” e qualquer pessoa que esteja livre de intenções pode acessar. O ideal é que o cliente consiga se manter neutro e receptivo, mas nem sempre é possível devido às resistências inconscientes. Mas um bom constelador deve estar sempre centrado e isento, para inclusive acolher as resistências do constelado. É importante buscar um bom profissional no qual você sinta confiança e empatia. 


Para além da técnica, é importante ter compreensão das leis sistêmicas mencionadas anteriormente e tomar a decisão de olhar para a frente. A postura interna diante do seu passado é que define como você caminha para o futuro, não os fatos em si. A vida chegou até você e se você se alegrar com isso pode fazer dela algo grandioso, nas suas relações e profissão. 


Originalmente publicado em https://www.personare.com.br/autor/maria-cristina

Traumas de infância: como superar pela Constelação Familiar

 Entenda a importância e cuidados ao lidar com os traumas de infância e outros traumas e quando a constelação familiar pode ser eficaz.


Durante a vida é possível que pequenos traumas ocorram mesmo de forma inconsciente. Mais comumente na infância podemos passar por vivências traumáticas que ficam registradas no corpo e no emocional podendo trazer alguns efeitos negativos na vida adulta.

Ao longo do texto, entenda mais sobre os traumas de infância e outros traumas que podem advir inclusive dos nossos ancestrais, e saiba como e quando a constelação familiar pode ser utilizada para obter resultados mais eficazes e não provocar maiores danos.

Traumas de infância: o que são segundo a Constelação Familiar

Ter um trauma, de maneira geral, significa que em algum momento de sua vida você passou por uma situação tão intensa e estressante que seu corpo e mente passaram por algum tipo de dissociação, como uma resposta de luta e fuga comum em animais diante de um predador. O registro ocorre no corpo e normalmente vem seguido de emoções que remetem à dor causada na situação em questão.

Vivências traumáticas vividas na infância podem acarretar problemas dos mais variados na vida adulta, dos mais graves, como ataques de pânico ou ansiedade, aos mais comuns mas não menos importantes, como inseguranças exageradas ou mesmo bloqueios ao se relacionar com alguém afetivamente.

As constelações familiares nos revelam que mesmo traumas ocorridos em gerações anteriores podem influenciar a vida dos descendentes devido aos vínculos sistêmicos e lealdades invisíveis. 

Como identificar traumas de infância

Para identificar um trauma é de extrema importância um acompanhamento com um profissional de Psicologia ou Psiquiatria. O grau de desconforto com que o trauma se manifesta em cada um é que determinará se precisará de uma associação de profissionais e técnicas.

Mas para saber se precisa buscar uma ajuda profissional, perceba se uma ou mais áreas da sua vida é extremamente desafiante para você. Se há sintomas como crises de ansiedade ou ataques de pânico sempre quando se depara com uma situação específica pode ser que haja um trauma relacionado. Mesmo sintomas físicos podem aparecer após um trauma mesmo que nunca se tenha feito uma associação entre ambos. Às vezes o trauma está tão inconsciente e interferindo em algum processo no fluir da vida sem que a pessoa perceba, que apenas num processo terapêutico ele se revela. 

Na infância muitos traumas podem ocorrer e apenas serem percebidos em uma psicoterapia ou em uma constelação familiar. Podem ocorrer traumas no nascimento e mesmo causado por separações dos pais, mesmo que aparentemente, tudo tenha sido superado, ou você nem tenha conhecimento. 

Uma criança que tenha ficado muito tempo longe dos pais por motivos de saúde de algum deles, pode gerar o trauma de separação, que é um dos mais comuns de ocorrer e perceber em constelações. Neste caso, a criança registra um certo abandono, mesmo que não tenha ocorrido de fato. Com isso, na vida adulta pode ter dificuldades de se relacionar afetivamente pelo receio de ser rejeitada ou abandonada. Esse é um trauma simples que é facilmente percebido em uma constelação familiar. 

Como superar traumas de infância

Há várias abordagens psicológicas que podem ajudar a tratar um trauma. Cada uma à sua maneira irá conduzir o cliente da maneira mais apropriada e segura para uma superação do trauma. Uma constelação familiar é uma técnica, portanto, ela não é recomendada para tratar um trauma muito profundo.. Esta é uma função do processo psicoterapêutico. Contudo a constelação pode ser uma grande aliada em alguns casos que precisam ser levados em consideração junto a um profissional de preferência que tenha conhecimentos sistêmicos. 

Primeiramente, é necessário notar se realmente é um problema para você. Se pesquisar muito por aí, talvez encontre muitos sintomas físicos e emocionais, ou mesmo atitudes que podem ser desencadeadas por um trauma. Mas faça uma autorreflexão e sinta se aquela questão realmente impede sua vida de fluir com leveza. Se houver dúvidas, o primeiro caminho é sempre começar um processo com um profissional de psicologia. Caso os sintomas sejam muito intensos pode contar com a ajuda de um psiquiatra também. Existem muitos livros e técnicas de autoaplicação que podem ajudar, mas ainda assim, o acompanhamento profissional é de extrema importância. Ativar um trauma sem estar pronto para lidar com ele, pode causar transtornos ainda maiores.

Como ajudar alguém com traumas de infância

Uma constelação familiar é uma técnica, portanto, ela não é recomendada para tratar um trauma. Esta é uma função do processo psicoterapêutico. Contudo a constelação pode ser uma grande aliada. Assim, caso você sinta que tem um trauma, ou conhece alguém que queira ajudar, o primeiro passo é procurar um psicólogo. Se o interesse por em constelação familiar, busque um profissional sistêmico que alie esta ferramenta ao seu trabalho ou busque um constelador através de indicações que seja de extrema confiança. A forma como o profissional conduz fará a diferença nos resultados desejados.

Cuidado com a vontade de ajudar alguém que passa ou passou por um trauma. Pois mesmo com uma ótima intenção, caso não seja um profissional capacitado para tal, pode causar mais danos. O ideal é acolher sempre com muito amor. Ser um bom ouvinte, sem julgar nem propor soluções pode ser de grande ajuda. Lembre-se que se tratar de um adulto ele possui suas próprias escolhas e deve ser respeitado deste lugar. Nada que lhe impeça de sugerir aquilo que acredita poder ajudar, mas cuidado para não pressionar pois pode ter um efeito oposto do desejado. 

Se é pai, mãe ou cuidador de uma criança que acredita ter vivido alguma experiência traumática siga a orientação anterior de buscar ajuda profissional com um psicólogo sistêmico caso também haja interesse na técnica da constelação familiar. E atenção: mesmo que suspeite que o trauma tenha tido a participação de um dos pais, cuidado como conduzirá a situação com a criança. Ela precisa e deve ser protegida, mas não ataque ou condene ninguém nem mesmo verbalmente na frente da criança. Brigas e acusações entre cônjuges na frente dos filhos podem piorar as vivências traumáticas. Lembre que o primeiro caminho é sempre buscar uma ajuda profissional.

O que a Constelação Familiar pode fazer por você

A técnica da constelação familiar pode ajudar a trazer à luz as questões que estão ocultas para você ou te fazer entrar em contato com seu próprio centro e seu lugar no seu sistema familiar. Em caso de vivências traumáticas, como orientado antes, pode ser necessário um acompanhamento psicológico ou em parceria com um psiquiatra. 

A técnica pode ser aplicada em grupo ou individual, presencialmente ou online. Você leva ao constelador o tema ou questão que percebe ter dificuldades em solucionar e se coloca receptivo e centrado para as informações que surgirão no campo. O método é fenomenológico, então não há como prever o que irá surgir, é uma observação do que atua naquele momento. O campo mórfico funciona como um inconsciente coletivo onde todas as informações são “armazenadas” e qualquer pessoa que esteja livre de intenções pode acessar. O ideal é que o cliente consiga se manter neutro e receptivo, mas nem sempre é possível devido às resistências inconscientes. Mas um bom constelador deve estar sempre centrado e isento, para inclusive acolher as resistências do constelado. É importante buscar um bom profissional no qual você sinta confiança e empatia. 

Caso surjam sintomas físicos referentes ao trauma durante a constelação é de extrema importância avisar ao constelador caso ele não tenha notado. Em casos de constelações em grupo presenciais pode ser que apenas assistindo a uma constelação de outra pessoa você tenha um trauma ativado. Também é importante avisar ao constelador sobre a questão. Caso note algum sintoma, lembre-se de respirar pausadamente e repetir mentalmente quem é você e onde você está. Isto pode ajudar a aliviar até que o constelador que conduz possa fazer algo a respeito. 

Traumas de antepassados podem surgir em constelações. Às vezes aquele sintoma físico ou emocional que você não encontra nenhuma referência em sua vida pode estar relacionado com algum trauma anterior no seu sistema. Para as constelações os vínculos sanguíneos e lealdades inconscientes são poderosos e perpassam gerações. Se houve algum ancestral que morreu muito jovem por uma situação traumática, e se isto foi excluído de alguma forma do seu sistema familiar, por ser um segredo ou apenas ter sido esquecido, algum descendente pode reviver o trauma de alguma forma como uma espécie de trazer a luz àquela questão oculta. 

O ideal é compreender os processos sistêmicos que envolvem estas repetições para sanar o problema. Somos conduzidos pelas leis sistêmicas do pertencimento (ninguém ou nada pode ser excluído do sistema familiar), ordem (atua no âmbito familiar onde quem vem antes é maior e tem prioridade e por isso deve ser respeitado como tal) e equilíbrio (trocas equilibradas nas relações sociais e afetivas), nas quais os processos de repetição muitas vezes estão vinculados. 

O que nos faz reviver um trauma de um antepassado é um profundo amor pelo sistema e uma lealdade inconsciente. Contudo, trata-se do que chamamos de amor cego, onde não percebemos o amor dos nossos ancestrais por nós e que sofrer para trazer os excluídos de volta ao sistema é provocar mais dano que solução. Compreender todo este processo nos faz olhar com amor para as dores e traumas pois eles querem de alguma maneira comunicar algo que está ausente. E mesmo as vivências traumáticas ocorridas na infância ou ao longo da vida devem ser tratadas com cuidado e respeitadas enquanto sintomas pois as reações talvez fossem as únicas possíveis diante dos acontecimentos. Assim, não pense em simplesmente eliminar o problema, mas olhar para tudo com amorosidade para conseguir se libertar dos grilhões que lhe impedem de viver sua vida com mais leveza.


sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Ajuda ou Autossacrifício? Como ajudar de forma efetiva e respeitosa sem nos emaranhar nos destinos dos outros.



O ano de 2020 nos trouxe uma pandemia e com ela grandes desafios. Algo que ganhou grandes proporções foi o processo de ajuda em todos os níveis. Tanto profissionalmente quanto pessoalmente muitos se mobilizaram para exercer a ajuda em algum nível em seu contexto. Contudo, muitos também adoeceram mais e tomaram para si excesso de responsabilidades para com os outros. Assim, é importante refletir sobre o processo da ajuda à luz das constelações familiares. E como ela pode ser mais efetiva tanto para o ajudante quando para o ajudado quando é feita do lugar certo.


O complexo de salvador


Muitos que escolhem a profissão de ajudante seja em qual área for carregam consigo algum complexo de salvador. Geralmente já estão fora de lugar em sua família de origem e levam para a profissão esta falta de lugar. É como se consertar algo fora fosse arrumar aquilo que está dentro. 


Saber nosso lugar em nossa família de origem é fundamental. Para as constelações familiares existem algumas leis sistêmicas que atuam, mesmo que não tenhamos conhecimento delas. A lei da ordem ou hierarquia é a que preserva a grandeza e lugar de cada um no sistema. Quem vêm antes é maior e têm prioridade e deve ser honrado deste lugar. Os problemas começam quando os descendentes querem mudar o destino dos que vieram antes deles. São filhos que querem salvar ou cuidar de algum ancestral assumindo lugares que não são seus. Esse processo na maioria das vezes é inconsciente apesar de algumas vezes ser até perceptível nas atitudes conscientes. Filhos adultos que deixam de viver suas próprias vidas para se voltar para a vida de um dos pais ou, às vezes, avós. Mulheres que abdicam de ter uma família nuclear e filhos para cuidar da família de origem seria um exemplo comum. Então, aquele que sempre se sacrificou de alguma forma pela família pode seguir fazendo o mesmo na profissão escolhida.


Por outro lado, alimentar mágoas e julgamentos pelos que vieram antes pode gerar uma culpa inconsciente que pode ser transformada em expiação e autossacrifício. Por diversos motivos você acredita que ajudando o outro possa aliviar a culpa de ser desleal ou estar agindo contra alguma lei sistêmica. Como é um processo inconsciente na maioria dos casos, apenas quando chega um sintoma físico ou mental o sujeito para refletir sobre seu lugar no mundo. Além disso, outro  dificultador é que o ajudante nem sempre está disposto a pedir ajuda já que é ele quem está neste lugar, por isso um sintoma precisa emergir para que isso aconteça.


Ordens da Ajuda


Bert Hellinger propôs em seu livro Ordens da Ajuda, algumas diretrizes a serem seguidas e compreendidas por aqueles que querem ser ajudantes. Contudo, é um caminho de autorreflexão para todas as pessoas pois constantemente, nas famílias e socialmente, nos deparamos com o imenso desejo de ajudar ou fazer algo pelo outro. É uma reflexão a partir de um olhar sistêmico e amplo.


A primeira ordem da ajuda diz que deve-se dar o que se tem e tomar apenas o necessário. Isso requer muita humildade para reconhecer as próprias limitações, especialmente para os ajudantes profissionais. Se o próprio ajudante ainda não encontrou seu próprio lugar em seu sistema de origem certamente terá dificuldades em auxiliar o outro de forma livre. Neste caso se a lei da ordem está sendo respeitada certamente o ajudante está no lugar e consegue levar uma ajuda mais efetiva reconhecendo o outro como adulto e grande assim como ele.


Na segunda ordem devemos nos submeter às circunstâncias externas e internas e respeitar o destino de cada um. A intervenção e apoio é na medida do necessário e permitido. O que ocorre geralmente, que representa desordem neste caso, é que o ajudante vê o destino do outro como pesado, difícil e quer mudar, mesmo que o outro não precise ou queira, para seu próprio alívio por não conseguir suportar o destino do outro. É como uma criança que ajuda sem medidas apenas para não ver o outro infeliz. A ajuda muitas vezes, neste caso, serve mais para o ajudante do que para o ajudado. 


Na terceira ordem, o ajudante se coloca como adulto perante um outro adulto. Assim não assume papéis substitutivos, geralmente parentais. A desordem aqui é permitir que um adulto haja como uma criança pedindo algo aos seus pais, e que o ajudante trate o cliente, (amigo ou familiar) como uma criança, para poupá-lo de algo que ele mesmo precisa e deve carregar - a responsabilidade e as consequências. Há um desrespeito pela lei do equilíbrio que ocorre no mundo dos adultos. Se o outro é adulto ele tem força e dignidade tanto quanto eu e isto precisa ser levado em consideração. 


Para a quarta ordem da ajuda é fundamental a visão sistêmica olhando para o outro como parte de um sistema e dar um lugar a todos os excluídos do seu sistema. Não estou somente a serviço do meu cliente, mas sim de todo o sistema familiar a que ela pertence, em especial aqueles que ela quer excluir. No caso de amigos e familiares é reconhecer que todos fazem parte de um grande sistema e inconsciente familiar e que cada um possui suas dores e lealdades que os movem na vida. É preciso evitar julgamentos e manter a empatia sistêmica. Esta ordem está em ressonância com a lei do pertencimento onde ninguém pode ser excluído, todos fazem parte.


A quinta ordem complementa a quarta pois é preciso evitar o julgamento e condenação daquilo que é a dor do outro. Estar isento de julgamentos morais é essencial para uma ajuda mais autêntica. Acolher a cada um como ele é, por mais que ele seja diferente de mim. Desordem seria o julgamento dos outros, que geralmente é uma condenação, e a indignação moral ligada a isso. Quem realmente ajuda, não julga.


E por último estar de acordo com a realidade que se apresenta, sem reclamar ou lastimar. Muitos suportam o destino alheio e querem mudá-lo. Com isso, podem assumir algo pelo outro desrespeitando a capacidade e grandeza do outro para lidar com seu próprio destino. 



Ajuda que ajuda


A ajuda efetiva é aquela que sabe olhar para o outro e seu destino com respeito e dignidade. Que inclui tudo que o outro traz, mesmo que seja diferente ou aparentemente doloroso. Profissionalmente, é preciso acolher e não desejar eliminar nada para o outro, pois isso ele mesmo precisa reconhecer e fazer conforme seu próprio sentimento. Mas sim, ampliar seu olhar, e fornecer alguma ferramenta ou recurso que o auxilie em seu processo, mas sem fazer por ele. 


No âmbito pessoal olhar para o outro com dignidade e não com pena. A pena reduz o outro a um patamar inferior. Contudo, se olharmos para a mãe, pai, irmão, amigo ou seja lá quem for, e vemos a força que reside em seu interior e que vêm de todo o seu sistema ancestral, transmitimos a essa pessoa, força e autoconfiança em seus próprios recursos. 


É importante estar atento aos sinais do corpo e da alma ou inconsciente. Pois, em sonhos ou sintomas, se a ajuda está deslocada e você está tomando um lugar que não é seu, certamente seu inconsciente irá te sinalizar de alguma forma. E então se lembrar daquelas recomendações em viagens de avião que sempre repetem que é preciso colocar primeiro a máscara de oxigênio em você para depois colocar no outro. 


Publicado em www.personare.com.br em 12/02/2021.