Impressionante, como não percebemos nosso comportamento no dia-a-dia. Agimos de forma tão impulsiva ou inconsciente na maioria das vezes, que não ficamos atento para o momento presente, ou como nos relacionamos de fato com os outros.
As pessoas reclamam que não são bem tratadas, que são deixadas de lado, ou agredidas em seu relacionamento, mas o que será que cada um faz para modificar o seu próprio comportamento. Será que estamos transferindo para o outro a responsabilidade pela nossa vida?!
No Comportamento Assertivo devemos expressar nossas idéias, pensamentos ou desejos, de forma segura e tranquila, respeitando nossos direitos e sem agredir nem interferir no direito do outro. Porém, na maioria das situações mantemos comportamentos não-assertivos, que podem ser passivos ou agressivos. No Comportamento Passivo, deixamos nosso direito de lado para agradar ao outro; somos omissos diante da vida. O Agressivo, será aquele que impõe suas idéias e opiniões, geralmente se auto-enaltecendo. Na mesma situação podemos agir de maneiras variadas alternando entre os comportamentos.
Alguns já estão se perguntando: O que isso tem a ver com a Teoria Sistêmica? Em primeiro lugar, ambas as abordagens são de certo modo existencialistas, ou seja, acreditam que o ser humano não é algo pronto e acabado, ele não É, mas apenas ESTÁ de determinada forma. Sendo assim, podemos modificar nossos padrões e atitudes quando sentirmos necessidade, sendo que, algumas vezes precisaremos de ajuda de profissionais para isso.
Em um relacionamento de casal podemos identificar facilmente o comportamento que predomina em cada um. Geralmente a pessoa que se comporta de forma passiva, poderá ter um companheiro(a) que se comporta agressivamente. Isso é comum, pois um alimenta a postura do outro. Então já podemos falar da Teoria Sistêmica. Em um casal não há um vilão e um bandido como em filmes de bang-bang (ou como aparecem nas novelas). Ambos são pessoas imperfeitas que buscam viver um relacionamento perfeito juntas. O que acaba ocorrendo na maioria das vezes, é que o que sofre sempre coloca a culpa de seus problemas no outro. O passivo sofre calado aceitando as imposições do agressivo, que muitas vezes nem percebe o mal que está fazendo já que o passivo não fala sobre seus sentimentos. Na Teoria Sistêmica, sabemos que não há UM responsável por uma relação estar ruim. AMBOS são responsáveis, pois de alguma forma um alimenta o comportamento/atitude do outro.
Um ótimo filme em cartaz que ilustra um pouco essa situação, chama-se: Foi apenas um Sonho (Revolutionary Road). Aliás, quase todas as abordagens principais da Psicologia, podem ser estudadas com esse filme, mas eu vou focar apenas nas duas já mencionadas.
O filme aborda o relacionamento do casal April e Frank, personagens de Kate Winslet e Leonardo DiCaprio. Ela era uma atriz sem sucesso, e deixa sua carreira devido ao casamento e a falta de reconhecimento em sua profissão. Ele segue os passos do pai trabalhando em uma empresa há anos, sem saber qual o seu talento e o que realmente deseja para sua vida profissional. Com o tempo a vida dos dois se transforma em uma rotina que pode ser a da maioria dos casais. Eles têm dois filhos, uma bela casa, e são defrontados com suas próprias escolhas.
O casal que era um modelo, se torna infeliz. Ao contrário do que muitos dizem, não foi o casamento que fez isso a eles. A infelicidade do casal ocorreu devido às suas expectativas frustradas. Eles projetaram no outro seus sonhos, esperando que fossem realizados, mas sem fazer o movimento necessário para que isso acontecesse. Ambos mantém a passividade em muitos momentos, vivendo cada um no seu mundo de sonhos e ideais, sem dizer ao outro quais eram seus reais desejos.
O filme pode ser tendencioso e ás vezes mostrar que um dos dois é culpado pela situação da relação decadente. Eu não percebi dessa maneira. Ao meu modo de ver, cada um contribuiu significativamente para que a relação chegasse aquele ponto. Em um dado momento April deseja mudar. Mas podemos perceber que ela não o faz por Frank, mas por desejar viver seus próprios sonhos frustrados. Porém, a falta dessa percepção faz com ela se decepcione novamente, por colocar em Frank todas as suas expectativas. Ironicamente, um “Louco” conhecido do casal, acaba por expor os dois às suas próprias sombras, forçando Frank e April a retirarem suas máscaras e a revelarem, de forma dolorosa, seus reais desejos.
Não adianta vivermos a vida esperando que o outro resolva nossos problemas. Isso vale para qualquer relacionamento. Não precisamos esperar que o “Louco” intervenha para expor nossos sentimentos. Algo está errado? Vamos parar de colocar a culpa no externo e ver o que estamos fazendo para permanecer na situação. Vamos fazer um treino diário, e tentar agir de maneira assertiva em nossos relacionamentos, assumindo as rédeas de nossa vida. Com isso conseguiremos viver melhor com quem está ao nosso lado e seremos leais aos nossos valores e desejos, sem tanto sofrimento.