segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Assertividade, Sistêmica e Projeção


Estudei um pouco sobre Comportamento Assertivo no último semestre, e foi uma das matérias da Teoria Comportamental que me chamaram atenção. No mesmo período também aprendi um pouco sobre a Teoria Sistêmica, e consigo fazer algumas pontes com as duas abordagens.

Impressionante, como não percebemos nosso comportamento no dia-a-dia. Agimos de forma tão impulsiva ou inconsciente na maioria das vezes, que não ficamos atento para o momento presente, ou como nos relacionamos de fato com os outros.

As pessoas reclamam que não são bem tratadas, que são deixadas de lado, ou agredidas em seu relacionamento, mas o que será que cada um faz para modificar o seu próprio comportamento. Será que estamos transferindo para o outro a responsabilidade pela nossa vida?!

No Comportamento Assertivo devemos expressar nossas idéias, pensamentos ou desejos, de forma segura e tranquila, respeitando nossos direitos e sem agredir nem interferir no direito do outro. Porém, na maioria das situações mantemos comportamentos não-assertivos, que podem ser passivos ou agressivos. No Comportamento Passivo, deixamos nosso direito de lado para agradar ao outro; somos omissos diante da vida. O Agressivo, será aquele que impõe suas idéias e opiniões, geralmente se auto-enaltecendo. Na mesma situação podemos agir de maneiras variadas alternando entre os comportamentos.

Alguns já estão se perguntando: O que isso tem a ver com a Teoria Sistêmica? Em primeiro lugar, ambas as abordagens são de certo modo existencialistas, ou seja, acreditam que o ser humano não é algo pronto e acabado, ele não É, mas apenas ESTÁ de determinada forma. Sendo assim, podemos modificar nossos padrões e atitudes quando sentirmos necessidade, sendo que, algumas vezes precisaremos de ajuda de profissionais para isso.

Em um relacionamento de casal podemos identificar facilmente o comportamento que predomina em cada um. Geralmente a pessoa que se comporta de forma passiva, poderá ter um companheiro(a) que se comporta agressivamente. Isso é comum, pois um alimenta a postura do outro. Então já podemos falar da Teoria Sistêmica. Em um casal não há um vilão e um bandido como em filmes de bang-bang (ou como aparecem nas novelas). Ambos são pessoas imperfeitas que buscam viver um relacionamento perfeito juntas. O que acaba ocorrendo na maioria das vezes, é que o que sofre sempre coloca a culpa de seus problemas no outro. O passivo sofre calado aceitando as imposições do agressivo, que muitas vezes nem percebe o mal que está fazendo já que o passivo não fala sobre seus sentimentos. Na Teoria Sistêmica, sabemos que não há UM responsável por uma relação estar ruim. AMBOS são responsáveis, pois de alguma forma um alimenta o comportamento/atitude do outro.

Um ótimo filme em cartaz que ilustra um pouco essa situação, chama-se: Foi apenas um Sonho (Revolutionary Road). Aliás, quase todas as abordagens principais da Psicologia, podem ser estudadas com esse filme, mas eu vou focar apenas nas duas já mencionadas.

O filme aborda o relacionamento do casal April e Frank, personagens de Kate Winslet e Leonardo DiCaprio. Ela era uma atriz sem sucesso, e deixa sua carreira devido ao casamento e a falta de reconhecimento em sua profissão. Ele segue os passos do pai trabalhando em uma empresa há anos, sem saber qual o seu talento e o que realmente deseja para sua vida profissional. Com o tempo a vida dos dois se transforma em uma rotina que pode ser a da maioria dos casais. Eles têm dois filhos, uma bela casa, e são defrontados com suas próprias escolhas.

O casal que era um modelo, se torna infeliz. Ao contrário do que muitos dizem, não foi o casamento que fez isso a eles. A infelicidade do casal ocorreu devido às suas expectativas frustradas. Eles projetaram no outro seus sonhos, esperando que fossem realizados, mas sem fazer o movimento necessário para que isso acontecesse. Ambos mantém a passividade em muitos momentos, vivendo cada um no seu mundo de sonhos e ideais, sem dizer ao outro quais eram seus reais desejos.

O filme pode ser tendencioso e ás vezes mostrar que um dos dois é culpado pela situação da relação decadente. Eu não percebi dessa maneira. Ao meu modo de ver, cada um contribuiu significativamente para que a relação chegasse aquele ponto. Em um dado momento April deseja mudar. Mas podemos perceber que ela não o faz por Frank, mas por desejar viver seus próprios sonhos frustrados. Porém, a falta dessa percepção faz com ela se decepcione novamente, por colocar em Frank todas as suas expectativas. Ironicamente, um “Louco” conhecido do casal, acaba por expor os dois às suas próprias sombras, forçando Frank e April a retirarem suas máscaras e a revelarem, de forma dolorosa, seus reais desejos.

Não adianta vivermos a vida esperando que o outro resolva nossos problemas. Isso vale para qualquer relacionamento. Não precisamos esperar que o “Louco” intervenha para expor nossos sentimentos. Algo está errado? Vamos parar de colocar a culpa no externo e ver o que estamos fazendo para permanecer na situação. Vamos fazer um treino diário, e tentar agir de maneira assertiva em nossos relacionamentos, assumindo as rédeas de nossa vida. Com isso conseguiremos viver melhor com quem está ao nosso lado e seremos leais aos nossos valores e desejos, sem tanto sofrimento.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Simplesmente Mulher

 

Gostaria de refletir um pouco sobre o papel da mulher nos dias de hoje e acredito que há um paradigma em torno dessa questão. O paradigma de que a mulher é frágil e de que em toda mulher há o desejo de ser mãe. E, por isso, ela deve ser doce, carinhosa e compreensiva.  Por outro lado, existe a idéia de que devemos ser tratadas e valorizadas como os homens no ambiente profissional.

 

Infelizmente, ainda existe um certo machismo do século passado nos dias de hoje. Tanto que encontramos empresas nas quais há diferença salarial entre homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo, principalmente nos cargos mais altos. Por isso, talvez as mulheres se sintam no dever de trabalhar mais para mostrar seu valor. O movimento feminista ajudou com que saíssem de suas casas e fossem para o mercado de trabalho. Porém, não garantiu que ambos os sexos seriam tratados da mesma maneira.

 

Mas o que realmente faz a diferença? A forma como o outro me vê ou a forma como eu mesma me percebo? Acredito que as mulheres que lidam bem consigo mesmas e com os papéis que devem desempenhar, não estão brigando por melhores salários. Elas já tem! E  não se preocupam se os homens ganham mais ou não. Elas se importam com seu próprio valor, com quem são em sua essência.

 

É possível ilustrar melhor essas questões com o filme Simplesmente Alice, do diretor Woody Allen. No filme, a personagem Alice, representada pela atriz Mia Farrow, possui uma vida familiar estável, com filhos, marido e conforto. Porém, conhece um outro homem e começa a ter fantasias a seu respeito. Ela decide procurar um médico chinês, devido a algumas dores no corpo. No entanto, o chinês entende o que Alice realmente precisa. Ele receita um tratamento à base de ervas mágicas, o qual irá mudar a vida dela por meio de uma jornada fascinante de autoconhecimento.

 

Ao longo do filme, Alice vê seu "mundo perfeito" desmoronar. Ela trai seu marido e também descobre a traição do mesmo. Quando opta pela separação e por ficar com o amante, este resolve voltar para sua ex-esposa. Ela se vê sozinha. Então, percebe que sua busca não é por um companheiro que a ame. Ela descobre que o que lhe falta para ser feliz, é ela mesma se amar e ir em busca de seus próprios ideais.

 

Ao meu ver, Alice descobre sua plenitude ao descobrir ela mesma, ou seja, ao seguir seus próprios desejos, e não o desejo dos outros. Ela saiu do "complexo de ser boazinha" para lutar pelo que ela queria, para buscar o que estava em sua essência.

 

Esse termo utilizado, o qual remete ao fato da mulher ter que ser boa, retirei de um dos contos descritos no livro Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola. Esse excelente livro sobre o universo feminino busca o resgate do arquétipo da mulher selvagem que existe dentro de cada uma de nós. A autora coloca que devemos ser fortes. Não uma força física, mas encontrar nossa própria essência, sem fugir, e, sim, convivendo ativamente com a natureza selvagem ao nosso próprio modo. Significa ser capaz de aprender e agüentar o que sabemos de nós mesmas. Manter-se firme e viver (ESTÉS, 1994).

 

Sendo assim, podemos ser como a personagem Alice do início do filme, ao viver uma vida vazia, dependente do outro. Ou descobrir nossa essência, nos libertando desse estereótipo de "boazinha", para alcançar nossos reais desejos. Temos a escolha de ser terna e maternal, como independente e rebelde. Ou, quem sabe, podemos ser nós mesmas, com nossos anseios, dúvidas e angústias. Somos capazes de administrar os diversos papéis que nos são impostos pela sociedade, mas sem nos subtermos a eles. Convém respeitar a singularidade do que ser mulher representa para cada uma e percorrer o constante caminho do autoconhecimento. Portanto, não nos esqueçamos da mulher selvagem que existe em nós, e que está sempre pronta para os desafios que surgirem pelo caminho.

Não precisamos ser iguais aos homens, mas sim, viver o ser mulher de forma plena e satisfatória!!

 

Artigo originalmente publicado em www.personare.com.br/revista (postado aqui com algumas alterações).



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Resgatando nossa criança interior




Já faz um tempo gostaria de escrever sobre a nossa criança interior. Essa idéia me ocorreu a partir do filme Duas Vidas (The Kid), depois de assisti-lo pela quinta vez para um trabalho na faculdade. Gosto de utilizar os filmes como metáforas para ilustrar situações corriqueiras de nossas vidas, e alguns deles têm muito a nos dizer.



Nesse filme, Bruce Willis faz o papel de Russ, um executivo frio e ambicioso, que aparentemente não mantém nenhuma relação de afeto por ninguém. Porém, em dado momento, ele se depara com Rusty, ele mesmo aos 8 anos, e começa a rever as escolhas que fez em sua vida. O filme revela o quanto uma criança ferida pode transformar a vida de um adulto.



Todos temos uma criança interior que precisa ser lembrada. Na correria do dia-a-dia, acabamos não lhe dando a atenção necessária. Também não pensamos que uma dificuldade vivida hoje, pode ser reflexo dessa criança ter sido ferida no passado.



Em algum momento, podemos pensar: "Bons tempos aqueles em que eu era criança e não tinha tantas responsabilidades." Na verdade, não é isso que estamos pensando, já que esse sentimento é desenvolvido desde cedo em nossas vidas. O que sentimos falta realmente é da Liberdade. "Como assim?", alguns podem perguntar. Afinal, considera-se que a liberdade só chega a partir dos 18 anos. Deixe-me explicar melhor.



A criança é livre, pois não tem medo de errar. Arrisca-se a cair e a levantar quantas vezes forem necessárias, sem preocupações com o tempo ou com a opinião alheia. Aproveita tudo que a vida tem para oferecer em cada momento. Experimenta o que quer e da forma que deseja sem medo de acabar. Aquele chocolate único e delicioso, que nós adultos comemos aos poucos, a criança o mastiga por completo. Porque ela prefere saboreá-lo em sua boca por um longo tempo, sem medo de que ao terminar não haverá mais. Ela deseja ser feliz agora. A criança diz às pessoas como se sente, sem medo de julgamentos.



Por esses e outros motivos, éramos livres quando criança. Livres das amarras que nós próprios criamos ao longo de nossa vida. Livres do medo do pré-julgamento dos outros. Éramos livres do medo de ser feliz.



O Russ adulto era uma criança ferida. No filme, ele teve a chance de voltar no tempo e perceber em qual momento foi marcado pela dor. O menino Rusty o ajudou lembrando-o como era bom ser criança.



Portanto, se quisermos mesmo entender e resgatar nossa criança interior, basta olhar para dentro e ouvir o que ela tem a nos dizer. Nossa criança pode não estar ferida, mas merece ser sempre amada.



O que proponho não é pararmos no tempo, tal como alguns adultos fazem ao manter comportamentos infantis. É, sim, sabermos quando e como darmos vazão a essa criança que existe em nosso íntimo. Para isso, não tenha vergonha quando ela quiser se manifestar. Viva e se esbalde, pois essa é uma ótima oportunidade de viver o agora.



Algumas sugestões podem lhe ajudar a resgatar sua criança ferida:


- Vá ao supermercado e compre coisas que você normalmente não come com as mãos. Leve para a casa e se lambuze saboreando tudo;


- Faça barulhos com objetos em casa, só para ouvir os sons. Não esqueça as panelas e talheres;


- Repita em voz alta por vinte vezes a palavra não;


- Arrisque confiar em um amigo de quem você gosta. Deixe que ele faz os planos e controle o que fizerem juntos;


- Reserve períodos de tempo para não fazer nada, não ter planos, não ter compromissos, simplesmente curtir;


- Deite-se numa rede e fique ali se balançando pelo tempo que quiser;



Uma outra técnica para o resgate da nossa criança interior, consiste em escrever cartas para ela em vários estágios de seu desenvolvimento. Para o bebê interior, para a criança que começa a andar, na idade pré-escolar até a adolescência, e também para os Pais. Não precisa ser nada muito elaborado, apenas deixe as idéias aflorarem em sua mente. Talvez esta seja a hora certa para cicatrizar algumas feridas.



Artigo originalmente publicado em www.personare.com.br/revista (Postado aqui com algumas alterações).