segunda-feira, 14 de outubro de 2013

POR QUE TEMEMOS A MORTE?

Gosto de uma série que se chama Grey´s Anatomy. Ela aborda o cotidiano de alguns médicos dentro e fora do hospital. Sua criadora, Shonda Rhimes, é fenomenal em criar cada capítulo, e consegue sempre relacionar o que ocorre com os personagens e os problemas médicos dos pacientes. Mas o meu tema aqui é a morte. E por isso, o último episódio (o terceiro da décima temporada) foi o que me tocou. Nele o chief Webber, um dos médicos principais do elenco, está em uma cama de hospital se recusando a receber tratamento. Se deixar que o tratamento aconteça ele poderá se recuperar. Mas algum tipo de orgulho faz com que ele evite qualquer cuidado de seus amigos médicos. Então, sua médica e amiga Bailey, coloca em seu quarto um senhor que está fadado a morte. Não há mais tratamentos possíveis e o que ele precisa é optar para onde quer ir e passar seus últimos dias. A diferença é que o senhor deseja muito viver, mas não tem essa opção. O que assemelha os dois é justamente que ambos são orgulhosos demais para aceitar sua condição. Um tem a vida e quer morrer, o outro "tem a morte" e quer viver. O desfecho... deixo para vocês assistirem... ;-)

O fato é que esse episódio chega em  uma semana de perdas. Pessoas próximas a mim perderam entes queridos. E mais alguns conhecidos também deram notícias de falecimentos. No mesmo período também que completaram-se três anos da morte de minha mãe. Este mês de outubro não está fácil... Até brinquei, (sim pois as vezes está é uma saída para a tristeza), que Deus deve estar recrutando...

A morte do outro nos provoca uma grande dor. Afinal, lembramos que somos finitos. E mais do que isso, lembramos que não temos a data da validade marcada em nós. Então nossa hora, pode ser a qualquer momento... E aí ficam os ses... Se eu tivesse feito aquilo, se eu tivesse dito isso...Acho que a dor maior é de pensar que não conseguimos nos despedir. Se soubéssemos que seria o último momento que veríamos aquela pessoa, quanta coisa seria dita... ou ao menos um abraço bem forte para expressar a saudade antecipada.Quantas pessoas entram e saem de nossas vidas, e ainda não estamos acostumados com essa despedida... 

Penso que se deixamos algo pendente ou mal resolvido, sempre é tempo de resolver. Um ritual neste caso pode facilitar o processo e tampar o buraco que ficou... Escrever uma carta para aquele que se foi... ou simplesmente visualizar uma conversa com um novo final... pode ajudar... Mas a saudade fica. Esta é inevitável. Saudade do que foi vivido e do que poderia ter sido... 

Mas, aliás, que final? Será mesmo que é um final? Ou foi encerrado apenas um capítulo de uma longa história? Como aquele filme que gostamos tanto e de repente sabemos que terá continuação... Quem sabe... O mais importante é aprender a valorizar ainda mais a vida. Saborear cada momento ao lado de quem amamos. Viver cada momento como se fosse o último.. É isto que fazem as sábias crianças!

Ah e a pergunta do título... respondo com outra pergunta Como não temer o desconhecido?

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

QUAIS SÃO AS SUAS FERIDAS


Marcas adquiridas ao longo da vida revelam aprendizados 

Quem nunca se machucou e teve uma ferida que deixou alguma cicatriz? Mesmo pequenos machucados podem deixar alguma marca na pele. E ainda temos aquela marca que nós mesmos colocamos, como as tatuagens. Estas são para uma vida inteira, mas ao menos somos nós que escolhemos quando a colocamos. Mas as cicatrizes mais difíceis de serem curadas são aquelas que não são visíveis, ou seja, as marcas que adquirimos ao longo da vida. 

Quando crianças, às vezes somos feridos emocionalmente pelos adultos. Pais ou cuidadores podem deixar marcas que caminham conosco durante um longo tempo, mesmo que eles tenham tentado fazer o seu melhor. E quando nos tornamos adultos algumas cicatrizes podem doer, mesmo tendo sido aparentemente curadas. Geralmente quando isso ocorre esquecemos provisoriamente daquela antiga marca. Não associamos a dor do presente com a dor do passado. São aqueles dias que a tristeza chega de repente e sem razão aparente. Alguns querem logo se livrar da dor com algum remédio. Outros tentam ignorá-la e pensar em coisas boas. Mas não tem jeito, se não compreendemos de onde vem aquela dor, ela poderá aparecer com frequência em nossas vidas. 

A história das suas cicatrizes 

Então nos deparamos com um grande dilema. Afinal, compreender a dor não significa eliminá-la. Acreditamos que basta localizar a origem do problema e tudo estará resolvido, mas nem sempre é assim. Como a cicatriz do machucado que não pode sair de nossa pele, aquela marca sempre irá nos lembrar do momento que a adquirimos. Da mesma forma a tatuagem, que fazemos em um momento de nossa vida e posteriormente pode não fazer mais sentido. Ela poderá até ser removida, mas também deixará sua marca. 

Podemos pensar como é triste nossa existência, pois as marcas sempre existirão, e nada do que façamos poderá fazê-las desaparecer em definitivo. Mas essa é uma atitude derrotista. Afinal, são estas mesmas cicatrizes que nos ensinaram a ser quem somos. Elas nos trouxeram um aprendizado que deve ser constante e não estático. Assim, ao vivenciarmos uma determinada situação, aprendemos uma lição naquele momento. E posteriormente as lembranças continuam nos ensinando algo mais sobre nós mesmos. Mesmo que as feridas sejam muito profundas elas não podem nos estagnar. Podemos sentir a tristeza que vem com a marca, mas não deixar que ela vire uma lamentação para a vida inteira. 

Aprendendo com o mito de Quíron 

Uma das versões do mito de Quíron* conta que ele era um centauro - metade homem, metade cavalo - que se dedicava a curar os outros. Um dia foi atingido pela flecha de Hércules, que havia sido banhada no sangue de Hidra (e sendo, portanto, venenosa), e causou em Quíron uma ferida incurável. Assim, o curador ferido era capaz de encontrar cura para os outros, menos para si. Isso significa que todos temos um pouco de Quíron em alguma área de nossa vida. E geralmente será nela que precisaremos de mais força para superar as dificuldades, apesar de termos essa capacidade de superação. Só precisamos aceitar que temos esta ferida e que ela caminhará conosco. Acolher a tristeza quando preciso, mas não deixar que ela defina quem somos. E isto não nos torna mais fracos, mas sim mais maduros e preparados para os obstáculos que possam surgir no caminho. 

*Segundo a astróloga Vanessa Tuleski, na Astrologia Quíron é um grande asteroide descoberto em 1977, também considerado um planetoide para alguns astrólogos.

Texto originalmente publicado em Personare