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quinta-feira, 27 de junho de 2019

Filme 7 minutos depois da meia noite: um olhar para a sombra e para a força que vem de nossas raízes

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Faz algum tempo queria assistir ao filme 7 minutos depois da meia noite (A monster calls/2016). Então resolvi conferir e tive um grande surpresa com tamanha profundidade sobre questões familiares em um filme que a princípio parece ser um terror que fala de monstros. Claro que vai muito além disso.

O monstro é uma metáfora para nossa sombra. E o melhor é que é de uma criança. Pois quem disse que crianças não tem sombra. A sombra faz parte do inconsciente e começa a ser formada assim que nascemos. O garoto do filme passa por um processo turbulento em sua vida. Sua mãe está em fase terminal de câncer e ele sofre bullying na escola. Além disso tem pesadelos repetitivos envolvendo sua mãe. Então, ele "cria" o mecanismo lúdico de exteriorizar sua sombra. E ela é vista através de uma árvore que ganha vida e começa um intenso diálogo com o garoto.

Algumas questões são bem bacanas para refletir. As histórias contadas pelo monstro árvore abordam questões de perdas mas sem nomear ou julgar quem é bom e quem é mau. Exatamente a forma como devemos encarar nossa sombra. Ela não é boa nem má, apenas guarda em si todos os aspectos que excluímos em nós, e muitas vezes aquilo que é nomeado como negativo, mas também talentos não vividos e escondidos. 

No filme a árvore exerce um bom papel de sombra do garoto. Como se com ela ao seu lado ele estivesse autorizado a extravasar suas emoções. E assim ele pode colocar toda sua raiva para fora. E este é um ponto muitíssimo sensível que é abordado no filme. Uma criança que passa pela perda de um dos pais fica muito zangada. A raiva é um bom esconderijo para o medo e a tristeza e esta é mais difícil de ser abertamente manifesta, então a raiva entra em cena. A raiva é justamente pela sensação de abandono oculta na situação. E no caso do garoto ainda ocorre dos pais serem separados e ele não poder morar com o pai. 

A criança vive um turbilhão de emoções quando se depara com a morte. Principalmente se precisa adotar um outro lugar, como o de cuidadora, a forte ou autossuficiente. É como se ela não tivesse mais o direito de ser apenas uma criança que requer cuidados e precisa deixar toda a emoção de lado para passar por este momento tão confuso. A forma como os adultos lidam com a morte ou a iminência dela é que fará toda a diferença. 

No filme é como se árvore, a sombra ou mesmo suas raízes (já que é uma árvore) é que lhe ajudam a atravessar o momento. A árvore o ajuda a enxergar sua dor. Interessante que ele buscava ser punido de forma constante como se fosse o culpado tudo aquilo. E quando o colega da escola disse que não iria mais bater nele pois ele não merecia ser visto, então ele conseguiu colocar toda sua raiva para fora. Ser visto era a única coisa que ele queria!! 

Assim ocorrem também com os excluídos em nosso sistema familiar. O que eles querem é serem vistos. Assim que isso acontece eles não precisam exercer alguma influência inconsciente no sistema. E sim, a dor também pode ser excluída se não for encarada de frente. E foi isto que a árvore do garoto lhe ensinou. Ele precisava aceitar que não era função dele salvar sua mãe, e nem era sua culpa que tudo aquilo ocorria. Simplesmente era este o destino. E quando ele finalmente conseguiu reconhecer que não poderia salvá-la, conseguiu colocar para fora seu medo de perdê-la e a tristeza decorrente disso também. Então a raiva já não era mais necessária e todos ficaram em paz.

Não é por acaso que o monstro é uma árvore. Geralmente é lá no em nosso sistema familiar, em nossas raízes que iremos encontrar a força para atravessar os momentos mais desafiante. 


sexta-feira, 10 de julho de 2015

DIVERTIDA MENTE: VIVENDO AS EMOÇÕES SEM JULGAMENTO

Filme da Disney mostra importância de aceitar todo tipo de sentimento 



Venho percebendo no meu trabalho no consultório o quanto as pessoas estão se privando de vivenciar emoções nomeadas como negativas. De um lado estão a alegria, o entusiasmo, a coragem e a tranquilidade que todos almejam viver constantemente; e do outro estão aquelas emoções que geralmente são evitadas e vistas como algo ruim, como a tristeza, o medo e a raiva. Há uma crença, principalmente entre pais de crianças e pré-adolescentes, que a alegria deve ser uma constante na vida dos filhos. 

Sem querer, estamos ensinando às crianças e adolescentes a negar os sentimentos, ao invés de aceitá-los. Então, uma lágrima ou um gesto de agressividade já é motivo para procurar a terapia. Vejam que este é meu trabalho e, ainda sim, me incomoda esta não-aceitação de um lado nosso que diz respeito à natureza de cada um. Afinal, somos seres humanos ou não? 

DIVERTIDA MENTE FAZ REFLETIR SOBRE O PAPEL DE CADA EMOÇÃO 

Vivemos com o sentir. Tudo pode nos causar algum tipo de emoção e isso, de certa forma, é um grande privilégio. E para nossa sorte, o novo filme da Disney, Divertida Mente (Inside Out), traz esta mensagem de maneira lúdica, simples e profunda. Ele nos faz refletir que cada emoção tem seu papel e todas elas são importantes e necessárias. Tanto a tristeza, a raiva, o medo e o nojo precisam ser vivenciados, assim como a tão esperada e desejada alegria! Não podemos ser alegres o tempo todo, pois assim estaríamos negligenciando uma parte de nós, de quem somos e do que nos faz crescer, aprender e evoluir. 

E com este equívoco de querer eliminar a emoção negativa, acabamos por abrir espaço para que outros sentimentos tomem as rédeas, o que pode causar ainda mais problemas. Então, um excesso de raiva pode ser algumas vezes uma tristeza não vivenciada. Ou simplesmente um dia, por acreditar que só a alegria deve reinar, nos vemos incapaz de sentir e experimentar. E é aí que o nosso mundo interno cai em ruínas, causando ainda mais transtornos e sofrimento. 

Recomendo a animação para que ela possa ser alvo de reflexões, e por que não, discussões em família. Alguns dizem que o filme não foi direcionado para as crianças. Concordo que os mais novos podem não ter ainda a estrutura para compreender a complexidade das emoções que existem em nós. Mas mesmo os menores precisam lidar com elas desde cedo para que cresçam mais seguros e autoconfiantes de que podem expressar sem problemas o que sentem. Assim, acho que é um filme para a família, das crianças até os mais velhos. Pois para expressar e viver as emoções em todos os seus aspectos não há idade. Pelo contrário, é um aprendizado constante o qual todos precisamos lidar de forma constante.

Originalmente publicado em Personare