Frozen II indicada ao oscar 2020 na categoria de Melhor Canção Original, chegou aos cinemas no fim de 2019 carregado de expectativas. O primeiro filme conquistou um grande público entre adultos e crianças e de certa maneira revolucionou os filmes de princesas aos quais estávamos habituados. A continuação ficou encarregada de ir além e explicar a origem dos poderes de Elsa, e com isso nos proporcionou um mergulho no passado das personagens.
No animação atual, a relação das irmãs continua sendo de muita proximidade. E como Elsa não precisa mais negar seus poderes e já aprendeu a lidar com eles, ela poderia seguir vivendo uma pacata vida de rainha de Arendelle. Contudo ela sente um ímpeto de ir em busca da verdade sobre a morte de seus pais e começa uma nova aventura acompanhada da irmã Anna, Kristoff, Olaf e Sven.
Os conflitos que não sabemos de onde vêm
Com uma reflexão mais profunda é possível perceber que Elsa continua em conflito. No primeiro filme ela tem dificuldades de reconhecer quem ela é, e no segundo ela ainda sente que não se encontrou totalmente. E então ela se depara com um real conflito entre povos que ocorreu no passado, e como ela simbolicamente representava a união deles.
O que a Rainha sentia fazia parte de algo concreto que realmente ocorreu no passado. E ao se deparar com o fato que era representado pela briga de dois povos, ela decidiu-se por ir mais fundo até encontrar a origem do problema.
O conflito de Elsa é muito comum em nossa vida cotidiana. Muitos sentem-se divididos, angustiados ou mesmo perdidos em seu próprio caminho e não conseguem encontrar uma causa real e atual para o sentimento que lhes perturba. Mas recorrendo à visão sistêmica e buscando um olhar mais amplo para nosso passado podemos encontrar em outros personagens da nossa história aqueles mesmos sentimentos que adotamos e repetimos insconscientemente.
Um olhar para as leis sistêmicas
A partir de um extenso estudo com famílias foi possível observar que algumas leis atuam todo o tempo mesmo que não se tenha conhecimento delas. Estas leis são a base das constelações familiares e são: Lei do pertencimento, da ordem e do equilíbrio. Basicamente as leis determinam que nada nem ninguém pode ser excluído do nosso sistema familiar; que quem chegou antes no sistema tem prioridade sobre quem chega depois e que é preciso estabelecer uma relação de troca e equilíbrio entre aquilo que é dado e o que é recebido. Sendo esta terceira lei válida para a relação entre casal e social.
Assim, somos unidos ao nosso sistema familiar por uma lealdade profunda, sendo que se alguma destas leis forem transgredidas, um ou mais membros se propõe a reparar. Está além da nossa vontade pois é uma lealdade insconsciente. O objetivo final é estar de acordo com as leis do sistema, reparando injustiças anteriores ou resgatando o fluxo do amor antes interrompido no sistema familiar.
Restaurando o fluxo do amor interrompido
Em Frozen II, Elsa se depara com um grave erro cometido pelo seu avô. Erro este que desencadeou uma série de injustiças e interferiram negativamente na vida de um povo. De alguma maneira para Arendelle existir outros foram prejudicados. Ao se deparar com a questão, a própria Elsa paga um preço e novamente ela precisa ser salva pela irmã. Anna se conecta de alguma forma com a raiz do problema e busca imediatamente sua reparação mesmo que seu lar seja prejudicado. Apenas este ato é suficiente para reparar a injustiça e Arendelle não precisa ser sacrificada.
Algumas crianças que assistiram a animação se perguntaram se o avô das irmãs era mau. E a resposta é não! Ele fez o que achava ser a coisa certa a se fazer. Contudo, para o sistema não existe certo ou errado da forma moral como aprendemos. Existe Justiça ou injustiça. Mesmo que o avô estivesse convicto de que fazia a coisa certa, cometeu uma grande injustiça e legou aos descendente as consequências dos seus atos.
A reparação necessária é restaurar o fluxo de amor interrompido. A construção de uma barreira, que na animação foi literal, é o que causa a separação. Os atos dos ancestrais apenas irão afetar a geração presente, se forem julgados, excluídos e extirpados como algo ruim e danoso. Pois é exatamente esta atitude que pode gerar o vínculo negativo causando a repetição de atos ou sentimentos de personagens do passado. Se no passado um ancestral comete uma injustiça e no presente seu ascendente apenas o julga ou critica por isso, a injustiça continua a atuar. O amor continua interrompido. Por outro lado, reconhecer a injustiça feita e deixar o lugar de honra que o antepassado possui no sistema independente dos atos cometidos, permite que o presente flua de maneira mais livre, com amor.
Como diria Jakob Schneider, “(...) Os fatos terríveis buscam uma linguagem através das gerações, para que se exteriorizem e possam aliviar a alma.” Em Frozen I a mensagem principal foi que o amor é a força que une e liberta. E a continuação reforça, que a força que precisamos buscamos nos ancestrais, nas nossas origens, independente de quem foram ou o que fizeram. Afinal, se não fossem por eles não estaríamos aqui. Honrar, liberar e seguir em frente. Assim, liberamos as barreiras que nos separam de nós mesmo.