quinta-feira, 20 de agosto de 2015

CONFLITOS VISÍVEIS, LEALDADES INVISÍVEIS

COMO A REPETIÇÃO INCONSCIENTE DE CONFLITOS PODE SE PERPETUAR ATRAVÉS DE GERAÇÕES



Naturalmente todas as famílias estão sujeitas as crises ao longo de sua história, ou ciclo evolutivo. Mas não necessariamente estas crises precisam causar danos aos membros da família. As crises são momentos de instabilidade que são necessárias para impulsionar a família ao crescimento e evolução. Elas criam uma necessidade de reorganização das relações entre os membros e leva-os a descobrir novas regras para o funcionamento do sistema familiar.

Um dos pontos a ser observado é que geralmente, quando há alguma crise ou mudança de ciclo de vida familiar, é possível a constatação de algum padrão familiar que é transmitido através das gerações. É o que chamamos na Psicoterapia Familiar Sistêmica, de Padrões familiares transgeracionais.

A mudança do ciclo de vida e suas repercussões

Mas o que seriam os ciclos de vida? São as mudanças pelas quais toda família passa ao longo de sua existência. Como a saída de um filho de casa para morar sozinho. Ou um casamento. A entrada de um novo membro na família como o nascimento de uma criança. A saída de pessoas do sistema familiar com as mortes. Todos estes fatos representam uma mudança de ciclo de vida e são considerados estressores para qualquer família. A diferença é o modo como cada um vai se adaptar ao novo ciclo.

São nestes momentos que podem surgir padrões de repetição. Uma mulher que ainda não tem filhos e de repente engravida pode despertar o inconsciente para algum padrão disfuncional em relação a maternidade. Com isso, ela pode repetir com seu filho comportamentos que antes condenava em seus pais por exemplo. Ou ainda dois jovens que decidem se unir em um casamento. Os padrões de relacionamento que são aprendidos com a família de origem e não são bem elaborados são levados ao novo casamento podendo gerar conflitos ao novo casal.

Assim, cada nova etapa do ciclo de vida familiar, um novo desafio se apresenta aos membros do sistema. Cabe a cada um passar por essas transições sem deixar que as crises sejam de grandes proporções. Para isso é necessário que cada indivíduo possa compreender o legado transmitido pela família de origem, elaborando bem as questões não resolvidas em seus relacionamentos familiares, a fim de evitar que os problemas se estendam às relações afetivas ou se perpetuem na sua história individual.

A lealdade inconsciente que impulsiona à repetição

Contudo, há um fator de origem inconsciente que influencia sobremaneira nas repetições de padrões, e chama-se lealdade invisível ou inconsciente.

As lealdades invisíveis dizem respeito a algumas expectativas que devem existir e se fazer cumprir por todos os membros da família. É como um grande livro com bordas e escrita envelhecidas, no qual se contabilizam os créditos e débitos do grupo familiar, no qual conexões vão se estabelecendo entre as gerações, criando expectativas que irão influenciar todo o grupo familiar. Podemos pensar que cada membro que nasce, possui um papel pré-estabelecido e precisará cumprir com as obrigações e expectativas designadas pela geração anterior.

A lealdade invisível poderá permanecer no inconsciente do grupo e poderá se manifestar na mudança de uma etapa do ciclo de vida familiar, que como já descrito anteriormente, possui seus próprios fatores estressores. Uma das etapas mais estressantes é o nascimento do primeiro filho do casal e esta pode vir carregada de expectativas de ambas as famílias. Assim, os cônjuges podem iniciar seus conflitos a respeito dos papéis de cada um e da maneira como devem educar os filhos. Cada um pode desejar representar seus próprios papéis determinado por seus antepassados, fixando uma posição rígida para cumprir cada um a sua maneira sua lealdade ao seu grupo de origem.

Aceitar e re-elaborar o Legado

O legado familiar faz parte da história de qualquer indivíduo e, portanto, é inevitável. Contudo ele não precisa ser destinado aos descendentes de uma família como algo rígido e imutável. O legado deve ser elaborado internamente, comunicado, e, algumas vezes, reformulado, para que a família tenha maior flexibilidade e desenvolva padrões saudáveis de relacionamento.

Assim, com a herança familiar elaborada, cada membro familiar poderá compreender melhor suas escolhas e atitudes perante o outro. Os indivíduos poderão construir um contrato próprio quando na relação de casal, com os elementos que cada um deseja trazer de sua família de origem, aliados às experiências individuais de cada cônjuge. Desta forma, todos estarão cientes de suas atitudes e transformarão a relação, interrompendo o ciclo de repetição e transmitindo uma herança consciente e mais bem elaborada para as futuras gerações.

O mais importante é perceber que muitas vezes será necessário ser desleal ao sistema familiar para que o indivíduo possa ser leal consigo mesmo e assim reelaborar sua história e aproveitar o legado familiar de maneira mais consciente, madura e saudável. Com isso, ele ajuda a apaziguar não só seus próprios conflitos, mas em alguns casos e inconscientemente, os conflitos de toda uma geração de sua família.



Publicado em Personare com adaptações.

COMUNICANDO DE FORMA POSITIVA

COMO A MANEIRA DE OUVIR E SE COMUNICAR INFLUENCIA NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS


Aos poucos tenho trazido para vocês um pouco sobre a psicologia positiva. Hoje quero falar de como ela pode ser importante para melhorar seus relacionamentos. Nossa comunicação interpessoal está ficando cada vez mais difícil. É comum vermos casais sentados um ao lado do outro sem trocarem uma palavra enquanto estão trocando mensagens pelas redes sociais. Isso quando não se trata de uma família inteira em silêncio ao redor de uma mesa. Com isso as pessoas aos poucos vão desaprendendo a falar de forma assertiva o que desejam, pensam ou sentem.

Entretanto, a discussão da relação (“DR”) continua sendo temida e evitada (e as vezes motivo de piada), já que pressupõe-se que para ela ocorrer é sinal de que algo na relação não vai nada bem, pelo menos para um dos lados. Contudo, o que Shelly Gable, professora de psicologia da Universidade da Califórnia, pesquisou, foi que mais importante que saber conversar quando há um conflito é saber comunicar-se bem nas situações positivas. Ou seja, a forma como você comemora, pode ser mais preditivo de relações duradouras do que a maneira como você briga.

A ideia principal é saber ouvir o outro. Mas não basta ouvir, é preciso responder de forma mais positiva. Com isso, segundo a Psicologia Positiva, existem quatro formas básicas de responder, mas apenas uma delas fortalece os relacionamentos. São elas: Resposta Ativa e Destrutiva; Resposta Passiva e Destrutiva; Resposta Passiva e Construtiva; Resposta Ativa e Construtiva. A partir de um exemplo vamos ver como seria cada resposta.

Seu parceiro, amigo ou filho conta o seguinte fato positivo: “Acabei de ganhar mil reais em uma rifa que comprei para ajudar uma instituição.”

- Resposta Ativa e Destrutiva: “Aposto que você terá que pagar impostos sobre esse dinheiro. E quem fez a rifa está rindo dos bobos que compraram pois certamente ganharam muito mais do que essa ninharia.” Não verbal: mostra emoções negativas.

- Resposta Passiva e Destrutiva: “ah é... Eu tive um dia horrível no trabalho, e estou cheio de dívidas, nada de bom acontece para mim...” Não verbal: Pouco contato visual, dá as costas.

- Resposta Passiva e Construtiva: “Que bacana.” Não verbal: Pouca ou nenhuma expressão emocional.

- Resposta Ativa e Construtiva: “Puxa, que legal! Como foi que comprou essa rifa? É tão bom ganhar algo que não esperamos né? Dá para você fazer um monte de coisas bacanas! Viajar, comprar algo legal, investir! Espero que aproveite bastante sua sorte! Não verbal: mantém contato visual, mostra emoções positivas.

Resumindo:

CONSTRUTIVO
DESTRUTIVO
A
T
I
V
A
Quem responde mostra entusiasmo, excitação, faz perguntas, se mostra interessado, reforça positivamente, leva a conversa adiante, faz contato visual e sorri.
Quem responde endossa apenas o negativo. Encontra algum problema na questão que é dita. Sempre enxerga o lado ruim primeiro. Não apoia, mas critica.
P
A
S
S
I
V
A
Quem responde pode até sorrir e reconhecer, mas logo silencia como se não conseguisse render o assunto. Geralmente não tem muita expressão.

Quem responde mostra-se desinteressado, desvia, muda de assunto e faz pouco contato visual. É como se ignorasse o que o outro acabou de dizer.

Infelizmente as respostas destrutivas são muito comuns em nossas relações afetivas. E se não aprendemos a dar respostas ativas construtivas, pois muitas vezes nem recebemos esse tipo de resposta ao longo da vida, precisamos praticar para criar o hábito. Assim sugiro a vocês que treinem bastante. O primeiro passo é ouvir atentamente (e verdadeiramente) a quem lhe conta algo. Esse é o primeiro passo e geralmente o mais difícil pois também não fomos acostumados a ouvir os outros. Quando ouvir verdadeiramente tente responder animadamente, com incentivo, focando no positivo. Se não conseguir ainda ser ativo, ao menos não seja destrutivo em seu comentário. Se quiser escreva por algumas semanas sobre alguns diálogos, como respondeu e como poderia ser diferente. Com esta prática constante você perceberá como suas relações serão mais positivas. As pessoas desejarão estar mais ao seu lado. Assim, para que uma relação à dois seja fortalecida, mais do que aprender a brigar bem, é saber comunicar melhor. Com isso uma relação afetiva que pode estar boa, certamente ficará ainda melhor!