sábado, 27 de maio de 2017

Síndrome de aniversário: quando datas significativas se repetem na família

Repetição de datas não é coincidência e transmite importante mensagem


Você percebe que na sua família costuma ocorrer algum acontecimento traumático relevante, mais de uma vez, ao longo de gerações? Ou, ainda, que datas de eventos distintos se repetem, tal como o nascimento de uma criança no mesmo dia da morte da avó deste bebê? Pode ser, também, uma mesma data de óbito que se repete no sistema familiar; pessoas que falecem com a mesma idade ou doença; acidentes em dias bem próximos, etc. Segundo um conceito bem intrigante que a psicóloga Anne Ancelin Schutzenberger traz, chamado Síndrome de Aniversário, isso pode não ser coincidência. A especialista verificou em sua própria família, e posteriormente confirmou com anos de estudo em clínica, que eventualmente datas significativas se repetem ao longo das gerações. 

O poder do inconsciente na sua vida 

A prática clínica e o meu próprio processo de autoconhecimento têm me ensinado muito a respeito do poder do inconsciente. Este algo que não está dentro de lugar algum e, ao mesmo tempo, nos toma por completo. Alguns especialistas dizem que somos 95% de mente inconsciente e apenas 5% de mente consciente. E podemos constatar este fato facilmente se pensarmos em nosso cotidiano, como aquelas atitudes e comportamentos que nomeamos de mecânicos e fazemos “sem perceber”. 

E a questão principal, mesmo que não acredite nela, é que você está sendo direcionado pelo seu inconsciente durante grande parte da sua vida. Nossa dinâmica familiar nos revela e oferece a oportunidade de tornar conscientes muitos comportamentos, sentimentos e atitudes que vão se perpetuando e se repetindo a nossa revelia. Somos movidos pela lealdade familiar inconsciente e a Síndrome de Aniversário também pode ser uma maneira desta lealdade invisível atuar. Já expliquei um pouco mais aqui, sobre como as crises familiares se perpetuam por gerações. http://www.personare.com.br/como-as-crises-familiares-se-perpetuam-por-geracoes-m6105 (coloquei o link aqui para vc direcionar) Segundo Schutzenberger, “o inconsciente tem boa memória, ao que parece; ama os laços de família e assinala os eventos importantes do ciclo de vida, pela repetição de datas ou idade”

Um bom exercício para saber se a Síndrome de Aniversário se faz presente para você, é fazer uma lista de datas de infortúnios ou acidentes graves ocorridos na sua família e fazer a pergunta: esses eventos se repetem em mais gerações? Talvez você encontre algum óbito, acidente ou infortúnio na mesma data (ou mesmo uma data próxima) a aniversários de nascimento ou casamento. Neste caso, um evento positivo pode estar relacionado a um evento estressante ou traumático para trazer à tona alguma questão que precisa ser revista.

Repetição de datas simboliza chance de dar um novo significado a uma ação ou sentimento

A repetição é uma forma de compreendermos aquilo que não foi assimilado no passado - por nós ou pelos familiares. Perceber uma repetição de datas relevantes pode significar simplesmente uma chance de dar um novo significado para uma ação ou sentimento. 

Para ilustrar, podemos pensar em quantas crianças nascem no dia do aniversário de vida ou morte de uma avó ou avô, por exemplo. E não necessariamente precisa ser no dia exato, mesmo uma data próxima já pode sinalizar alguma ligação entre a mãe e sua própria mãe/pai. Pode parecer estranho, a princípio, pensar que a data de um nascimento, a qual não temos controle na maioria das vezes, pode estar relacionada com algo do passado, mas é exatamente assim que age o inconsciente. E o inconsciente familiar é ainda mais poderoso, pois traz memórias de várias gerações. E mesmo quando planejamos conscientemente a data, pode ser que ela tenha relação com algum evento de duas gerações anteriores a nossa e nem sabíamos conscientemente disto. Mas o inconsciente sabe! 

Talvez identifiquemos a repetição de uma data e, por não ser algo relevante a priori, pensamos ser apenas uma coincidência. Como no exemplo citado, do caso do nascimento da criança no mesmo dia do aniversário de morte de sua avó, pode simbolizar algo que esta mãe precisa ficar atenta ao longo da relação com a filha. Talvez algum sentimento não resolvido com sua própria mãe, que pode vir à tona na relação com aquela filha no futuro. E não é preciso esperar os conflitos surgirem para que eles sejam resolvidos. Sentimentos mal elaborados, mesmo que acreditemos ser algo do passado, podem e devem ser trabalhados a todo instante. Isto faz parte do processo constante de autoconhecimento.

Proximidade de datas importante pode causar incômodos físicos ou emocionais

Pode ocorrer também, quando uma data importante está se aproximando (aniversário de morte de alguém, ou data de algum acidente ou grande perda no passado), começarmos a sentir física ou emocionalmente vários incômodos. Os sintomas, por também serem expressões do inconsciente, são ótimos sinalizadores de que precisamos olhar para nosso mundo interno e lidar com alguma questão inconsciente que nos impede de avançar em algum nível da nossa jornada. 

Certa vez atendi em consultório um senhor que estava muito transtornado por ter batido pela primeira vez em sua filha adolescente. Ele disse ter “perdido a cabeça” e não pensou para agir. Em nossa conversa, trouxe o sentimento de rancor que tinha do pai já falecido, que lhe batia constantemente, e por isso jurou nunca repetir esta violência com suas filhas. Fizemos, então, sua árvore genealógica, a fim de identificar as datas e os eventos mais relevantes da sua família. Foi possível constatar que o pai havia falecido com aquela mesma idade em que o senhor se encontrava na época das sessões. E mais: na época do falecimento do pai, ele tinha a mesma idade que atualmente tinha sua filha adolescente. Refletimos sobre a importância dele trabalhar seus sentimentos de raiva e rancor por seu pai. Poucos dias após esta sessão, o cliente - que já vinha fazendo exames de rotina devido ao histórico de problemas coronários - foi a óbito por infarto, tal como seu pai. 

Neste caso, o inconsciente sinalizou, por meio do evento com a filha, que algo do passado relacionado a sentimentos não elaborados pelo pai estava se “apossando” dele. E aí poderíamos nos questionar: “será que ele realmente precisava ter morrido nestas circunstâncias?”. Ou se ele tivesse limpado estes sentimentos relacionados ao pai poderia seguir vivendo em sua própria história? Neste caso, este paciente poderia ter se submetido a alguma técnica para trabalhar com traumas, como a EFT (Técnica de libertação emocional) ou a Constelação Familiar, para ajudá-lo a limpar estas emoções represadas. Neste exemplo, podemos lembrar da força que as lealdades familiares exercem sobre nós e refletir ainda mais longe: morrer nas mesmas circunstâncias foi a maior lealdade que ele poderia ter demonstrado ao pai.

Talvez nem sempre é possível ter olhos para ver tantas sincronicidades de datas em sua própria história. A presença de um terapeuta especializado em Psicogenealogia (psicoterapia baseada no estudo do inconsciente familiar em seus mais diversos aspectos e atuações) para auxiliar a desatar os nós, pode ser fundamental em determinados momentos. Mas é fato que é preciso dar a devida importância ao nosso inconsciente familiar, ao invés de negar sua existência. Afinal, ser adulto é saber se apropriar da própria história para fazer as escolhas de forma mais lúcida e consciente.

Originalmente publicado em Personare

quarta-feira, 17 de maio de 2017

SOBRE LOUCURA E AMOR


Dia 18 de maio é um dia de lutas no calendário!
No mesmo temos o dia nacional da luta antimanicomial e também do combate a exploração sexual contra crianças e adolescente. Minha ideia aqui é falar sobre Loucos e penso que isto diz respeito aos dois assuntos!

Primeiramente sempre tenho um pesar em saber que precisamos de dias para marcar lutas e combates. Parece que estamos sempre cultivando em nós algo no qual precisamos combater. Alguns dirão que isto é normal e até saudável já que maus hábitos, comportamentos fora do padrão e tudo que sai das regras sociais deve ser combatido. Mas gostaria de ampliar um pouco esta visão trazendo o assunto para dentro de cada um de nós.

O quanto de coisa tem aí dentro de você que você não gosta. Que pensa que precisa lutar e combater todo o tempo. Se agimos de uma maneira que nos prejudica, logo nos condenamos e martirizamos, e somos mesmo bom nisso, em nos julgar! Buscamos sermos alguém melhor a cada dia, mas para isso, odiamos aquelas partes nossas que não são bem vindas.

Fico pensando neste conceito que temos de normalidade. Porque se a luta antimanicomial continua é porque a sociedade ainda separa os loucos dos normais.  Normal é ser de uma família, trabalhando x horas por dia, com os filhos na escola e reclamando do governo. As neuroses que surgem em decorrer das escolhas também são normais. Trabalho em excesso, que leva a adoecimentos também é normal. Normal é ter filhos cada vez mais novos tomando medicamentos para ansiedade. Ter depressão já é quase ter uma dor de cabeça de tão normal que está se tornando.

Enquanto isto os loucos são excluídos. Estes que não querem viver conforme as regras do mundo. Que se voltam para mundos próprios, já que este mundo aqui está muito complexo e difícil de acompanhar.

Precisamos é de um dia Nacional do Amor pelo amor! Um dia que todos devem parar tudo que estão fazendo e dizer coisas amorosas para si mesmo e para os outros, mesmo para os que não gostam. Imagina como seria a energia de um dia assim no mundo... Alguém dirá que isto precisa ser constante, todos os dias, e eu mais do que concordo! Mas para nós que temos apenas dias de lutas e combates, um dia já será um grande passo.

E voltando lá atrás naquilo de negar e tentar extirpar aquilo que a gente não gosta na gente. E se a gente de repente aceitasse e amasse nossa loucura. Deixasse de querer agradar e viver a vida que os outros querem que a gente viva. E claro que os outros também pensam o mesmo, assim ninguém vive a vida que quer viver achando sempre que algo mais é esperado.  Se tirássemos da nossa ideia que há algo que precisa ser combatido e plantássemos a semente que há algo que precisa ser amado! Se parássemos de excluir aquilo que não gostamos e achamos ruim para olhar e aceitar com amor e compaixão.  Aceitar e amar cada parte nossa mesmo aquilo que não conseguimos nem olhar! Se tudo é nosso reflexo, então assim, só haveria amor! Parece louCura! Sim, talvez seja esta a Cura!