domingo, 22 de dezembro de 2013

MUDANDO O FOCO: APRENDENDO COM A PSICOLOGIA POSITIVA




No final do mês de novembro estive em um treinamento em Psicologia Positiva com a Dra. Sofia Bauer em Belo Horizonte. Foram dois dias treinando ser feliz! Alguns dirão: Mas como assim? A felicidade não existe! Não é possível treinar ser feliz! Eu digo: a felicidade pode ser aprendida a partir de um treinamento diário que todos podemos fazer.

Mas o que vem a ser a tal da Psicologia Positiva, e o que ela tem a ver com felicidade? Ao contrário do que muitos pensam (e ainda irão pensar) é que se trata de autoajuda. Isso não é verdade. A Psicologia Positiva foi fundada pelo Psicólogo Martin Seligman nos EUA e é baseada em várias pesquisas científicas realizadas com o intuito de compreender o que era felicidade para as pessoas entrevistadas.

Martin Seligman deu início a inúmeros trabalhos e pesquisas sobre o assunto e publicou livros sobre o assunto, como Felicidade Autêntica e Florescer. Mas o melhor, abriu caminho para outros tantos iniciarem seus estudos e práticas nesta nova ciência, que ao meu ver, é a Psicologia do futuro.

Eu acredito, como sempre, que nada acontece por acaso. Para utilizar um termo mais bem aceito para alguns da Psicologia, diria que são as sincronicidades que nos movem. E elas estiveram presentes a todo momento e foram elas que me levaram a conhecer esta ciência deliciosa de estudar! A tanto tempo recebemos mensagens da importância do pensamento positivo, meditação, atividades físicas, mas sempre lemos, nos empolgamos e deixamos para lá. Não dá mais para deixar para lá! É a nossa vida que precisa ser vivida da melhor forma!

Você acredita em outra vida? Ok, então você vai fazer o melhor que pode por você e pelos outros nesta ou vai ter que viver tudo de novo outra vez, repetindo tudo?

Você só acredita que temos esta vida e que depois viramos pó? Ok, então vai deixar sua vida para lá, ou vai começar vivê-la para valer já que é a única que você tem....?

Na pesquisa de Seligman foi constatado que o que faz as pessoas felizes é a sensação de dever cumprido e ajudar o próximo. Tantas pessoas são felizes vivendo de forma simples. A felicidade não está tão longe como imaginamos. E eu diria que o “pulo do gato” que a Psicologia positiva trouxe de diferencial, foi justamente a AÇÃO. A prática diária é que nos leva a melhorar nosso bem estar e nossa vida. São pequenos passos de cada vez. Talvez o problema da maioria é que quando resolvem mudar querem mover logo uma montanha... como alguém que nunca praticou atividade físicas querer sair correndo uma maratona... Assim desistimos logo! Precisamos ir aos poucos, cada um no seu ritmo, mas sempre caminhando um passo de cada vez...

Problema sempre vai haver! E que bom pois só não tem problemas os mortos enterrados nos cemitérios... O que faz a diferença é lidar com os problemas e não lamentar e reclamar o tempo todo que eles existem. É partir para ação! Isso dá um colorido novo para nossa vida, pois sempre estaremos caminhando, subindo um degrau pro vez... Talvez por isso agindo com o coração, fazendo o bem para o outro e para nós, mudamos aos poucos nosso foco e percebemos o quanto podemos evoluir e ser melhores sempre! Assim var dar cor a nossa ação!!


E vou contar um segredo. Fadas existem. Eu conheço uma que trabalha fazendo magias por aí... Claro que ela está disfarçada, mas quando temos o olhar para perceber, conseguimos enxergar suas lindas asas! Sofia Bauer é ela! E também é ela quem dá dicas valiosas sobre a Psicologia Positiva. Se quiser saber algumas dicas práticas pode ver o vídeo que ela gravou para disseminar essa linda psicologia para os 4 cantos... E eu vou junto nessa corrente do bem!! Clique para ver as dicas de Psicologia Positiva

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

POR QUE TEMEMOS A MORTE?

Gosto de uma série que se chama Grey´s Anatomy. Ela aborda o cotidiano de alguns médicos dentro e fora do hospital. Sua criadora, Shonda Rhimes, é fenomenal em criar cada capítulo, e consegue sempre relacionar o que ocorre com os personagens e os problemas médicos dos pacientes. Mas o meu tema aqui é a morte. E por isso, o último episódio (o terceiro da décima temporada) foi o que me tocou. Nele o chief Webber, um dos médicos principais do elenco, está em uma cama de hospital se recusando a receber tratamento. Se deixar que o tratamento aconteça ele poderá se recuperar. Mas algum tipo de orgulho faz com que ele evite qualquer cuidado de seus amigos médicos. Então, sua médica e amiga Bailey, coloca em seu quarto um senhor que está fadado a morte. Não há mais tratamentos possíveis e o que ele precisa é optar para onde quer ir e passar seus últimos dias. A diferença é que o senhor deseja muito viver, mas não tem essa opção. O que assemelha os dois é justamente que ambos são orgulhosos demais para aceitar sua condição. Um tem a vida e quer morrer, o outro "tem a morte" e quer viver. O desfecho... deixo para vocês assistirem... ;-)

O fato é que esse episódio chega em  uma semana de perdas. Pessoas próximas a mim perderam entes queridos. E mais alguns conhecidos também deram notícias de falecimentos. No mesmo período também que completaram-se três anos da morte de minha mãe. Este mês de outubro não está fácil... Até brinquei, (sim pois as vezes está é uma saída para a tristeza), que Deus deve estar recrutando...

A morte do outro nos provoca uma grande dor. Afinal, lembramos que somos finitos. E mais do que isso, lembramos que não temos a data da validade marcada em nós. Então nossa hora, pode ser a qualquer momento... E aí ficam os ses... Se eu tivesse feito aquilo, se eu tivesse dito isso...Acho que a dor maior é de pensar que não conseguimos nos despedir. Se soubéssemos que seria o último momento que veríamos aquela pessoa, quanta coisa seria dita... ou ao menos um abraço bem forte para expressar a saudade antecipada.Quantas pessoas entram e saem de nossas vidas, e ainda não estamos acostumados com essa despedida... 

Penso que se deixamos algo pendente ou mal resolvido, sempre é tempo de resolver. Um ritual neste caso pode facilitar o processo e tampar o buraco que ficou... Escrever uma carta para aquele que se foi... ou simplesmente visualizar uma conversa com um novo final... pode ajudar... Mas a saudade fica. Esta é inevitável. Saudade do que foi vivido e do que poderia ter sido... 

Mas, aliás, que final? Será mesmo que é um final? Ou foi encerrado apenas um capítulo de uma longa história? Como aquele filme que gostamos tanto e de repente sabemos que terá continuação... Quem sabe... O mais importante é aprender a valorizar ainda mais a vida. Saborear cada momento ao lado de quem amamos. Viver cada momento como se fosse o último.. É isto que fazem as sábias crianças!

Ah e a pergunta do título... respondo com outra pergunta Como não temer o desconhecido?

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

QUAIS SÃO AS SUAS FERIDAS


Marcas adquiridas ao longo da vida revelam aprendizados 

Quem nunca se machucou e teve uma ferida que deixou alguma cicatriz? Mesmo pequenos machucados podem deixar alguma marca na pele. E ainda temos aquela marca que nós mesmos colocamos, como as tatuagens. Estas são para uma vida inteira, mas ao menos somos nós que escolhemos quando a colocamos. Mas as cicatrizes mais difíceis de serem curadas são aquelas que não são visíveis, ou seja, as marcas que adquirimos ao longo da vida. 

Quando crianças, às vezes somos feridos emocionalmente pelos adultos. Pais ou cuidadores podem deixar marcas que caminham conosco durante um longo tempo, mesmo que eles tenham tentado fazer o seu melhor. E quando nos tornamos adultos algumas cicatrizes podem doer, mesmo tendo sido aparentemente curadas. Geralmente quando isso ocorre esquecemos provisoriamente daquela antiga marca. Não associamos a dor do presente com a dor do passado. São aqueles dias que a tristeza chega de repente e sem razão aparente. Alguns querem logo se livrar da dor com algum remédio. Outros tentam ignorá-la e pensar em coisas boas. Mas não tem jeito, se não compreendemos de onde vem aquela dor, ela poderá aparecer com frequência em nossas vidas. 

A história das suas cicatrizes 

Então nos deparamos com um grande dilema. Afinal, compreender a dor não significa eliminá-la. Acreditamos que basta localizar a origem do problema e tudo estará resolvido, mas nem sempre é assim. Como a cicatriz do machucado que não pode sair de nossa pele, aquela marca sempre irá nos lembrar do momento que a adquirimos. Da mesma forma a tatuagem, que fazemos em um momento de nossa vida e posteriormente pode não fazer mais sentido. Ela poderá até ser removida, mas também deixará sua marca. 

Podemos pensar como é triste nossa existência, pois as marcas sempre existirão, e nada do que façamos poderá fazê-las desaparecer em definitivo. Mas essa é uma atitude derrotista. Afinal, são estas mesmas cicatrizes que nos ensinaram a ser quem somos. Elas nos trouxeram um aprendizado que deve ser constante e não estático. Assim, ao vivenciarmos uma determinada situação, aprendemos uma lição naquele momento. E posteriormente as lembranças continuam nos ensinando algo mais sobre nós mesmos. Mesmo que as feridas sejam muito profundas elas não podem nos estagnar. Podemos sentir a tristeza que vem com a marca, mas não deixar que ela vire uma lamentação para a vida inteira. 

Aprendendo com o mito de Quíron 

Uma das versões do mito de Quíron* conta que ele era um centauro - metade homem, metade cavalo - que se dedicava a curar os outros. Um dia foi atingido pela flecha de Hércules, que havia sido banhada no sangue de Hidra (e sendo, portanto, venenosa), e causou em Quíron uma ferida incurável. Assim, o curador ferido era capaz de encontrar cura para os outros, menos para si. Isso significa que todos temos um pouco de Quíron em alguma área de nossa vida. E geralmente será nela que precisaremos de mais força para superar as dificuldades, apesar de termos essa capacidade de superação. Só precisamos aceitar que temos esta ferida e que ela caminhará conosco. Acolher a tristeza quando preciso, mas não deixar que ela defina quem somos. E isto não nos torna mais fracos, mas sim mais maduros e preparados para os obstáculos que possam surgir no caminho. 

*Segundo a astróloga Vanessa Tuleski, na Astrologia Quíron é um grande asteroide descoberto em 1977, também considerado um planetoide para alguns astrólogos.

Texto originalmente publicado em Personare

terça-feira, 24 de setembro de 2013

SÓ PALAVRAS...


Jamais, Sempre, Nenhum são palavras que Nunca Devem ser ditas.
Mas Nunca e Devem também não posso dizer, o que dizer então?
E o não também não pode, mas quem vive só de sim?
Devem é muito forte, talvez um pode ser, quem sabe ou coisa assim.
Agora já nem sei mais o que realmente quero dizer...
Quero compartilhar um pouco do meu saber...
E ainda captar algo do seu querer...
Mas será que não posso querer, nem dizer o que quero dizer?
Há tanta confusão em minha mente...
As palavras são incompletas e a linguagem nem sempre suficiente.
O que importa então, em uma comunicação?
Simplesmente ouça e preste atenção.
Quero falar pra você do fundo do meu coração...
A troca está presente, deixa de lado a imposição.
Com tanta palavra imprópria, falar se torna difícil...
Mas porque o entendimento demanda tanto sacrifício?
Já sei o que vou fazer, vou continuar falando...
A linguagem é uma construção por isso estou sempre tentando...
Talvez eu não seja clara, mas vou tentar esclarecer...
E se você não me entender, talvez eu nada possa fazer ...
Também é preciso um outro para escutar o que tenho a dizer.
Escutar é uma arte e aprendemos no dia-a-dia.
E escutar é pra poucos, mas não é uma utopia.
Basta abrimos a mente e estarmos sempre presentes.
Mas não vou desistir de tentar, falar, ouvir e escutar...
Não tenho medo de errar, e estou aqui pra aprender.
E você o que vai fazer?

Obs: Este foi meu lado poetisa! ;-)

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A VIDA QUE QUEREMOS PARA NÓS

Recentemente assisti ao filme francês "A vida de outra mulher" (2012) e achei interessante refletir sobre as escolhas que fazemos ao longo da vida. No filme, Marie (Juliette Binoche) acorda no dia de seu aniversário e percebe que esqueceu os últimos 15 anos de sua vida. Ao dormir, acabara de completar 26 anos, era solteira, apaixonada e cheia de planos. Ao acordar, com 41 anos, se viu no corpo de uma executiva de muito sucesso, casada e com um filho. Ela percebe que se casou com o homem dos seus sonhos, mas que ele a trata com grande indiferença. O filho, a princípio, parece gostar da nova mãe que surge de repente, mas logo se distancia dela, preferindo a companhia do pai ou da babá. A protagonista precisa conhecer aquela mulher em que se transformou para tentar fazer novas escolhas.

Penso que existem muitas Maries pelo mundo, principalmente quando nos olhamos no espelho e nos deparamos com alguém que não conhecemos mais - seja porque estamos diante em um casamento infeliz ou em uma família distante emocionalmente. Neste momento podemos lembrar de quem éramos na juventude e de como fugimos do script que traçamos para nós ao longo da vida.

RESGATE BONS SENTIMENTOS DO PASSADO

Claro que a vida é feita de incertezas. Não precisamos seguir a risca algum plano de futuro que mantínhamos quando éramos jovens. Por isso é importante estar consciente das próprias escolhas. Pense no que realmente tem valor na sua vida. Precisamos resgatar o vigor, a alegria e a coragem da juventude, características que muitas vezes perdemos com o tempo. Não deixe que as responsabilidades profissionais e sociais lhe afastem de si mesmo e daqueles que ama.

É comum os casais chegarem em meu consultório para terapia, em meio a uma grande crise ou conflito. Como se aquele que está ao nosso lado não fosse mais o mesmo do início do relacionamento. Então, acabam prevalecendo as críticas que levam a brigas intermináveis na relação a dois. Neste momento, cabe a cada um lembrar do momento que se conheceram: a paixão do início, o primeiro encontro... Onde estão aquelas pessoas? Talvez possamos resgatá-las do passado e trazer de volta a alegria do começo de uma união. Não podemos ser a mesma pessoa de antes, mas nossos sentimentos e valores podem ser relembrados.

Mas isso tudo requer trabalho. Assuma que ao longo da vida você pode fazer escolhas erradas. Tenha humildade para reconhecer que erramos e coragem para querer acertar novamente. No fim, podemos não conseguir mais recuperar o tempo perdido ou a relação amorosa que fracassou, mas estaremos mais conscientes de quem somos e do que desejamos para nós dali em diante. Afinal, enquanto estivermos vivos, sempre é possível recomeçar!

Texto originalmente publicado em: Personare

sexta-feira, 14 de junho de 2013

DE ONDE VEM O MEU COMPLEXO?

Particularidades físicas, nome diferente, sensação de inferioridade, entre outras muitas causas, podem fazer com que as pessoas desenvolvam complexos ao longo do tempo. Mas isso não é uma regra, já que a origem dos complexos não é bem definida. Afinal, tratam-se de emoções inconscientes que foram reprimidas em algum momento de nossas vidas.

Assim, algo pode se tornar um complexo para um e não para o outro. Mas geralmente o complexo surge a partir de um julgamento. E esse juiz implacável pode ser alguém próximo ou nós mesmos. Mesmo um complexo criado devido a alguma particularidade física é definido pela emoção que criamos a respeito desta característica.

COBRANÇAS E EXCESSO DE COMPARAÇÃO PODEM DESENCADEAR COMPLEXOS

Podemos pensar que a maioria dos complexos aparece em algum momento da infância. Afinal, as crianças estão formando sua personalidade e são muito influenciadas pelo meio em que vivem. Uma criança que tenha alguma particularidade física ou um nome estranho geralmente sofre com apelidos dados pelos coleguinhas ou pela própria família, o que pode gerar um complexo no futuro. Isso ocorre pois alguns padrões são impostos pela sociedade e quando alguém não se encontra dentro de um modelo esperado pode sofrer preconceito e, com isso, criar um complexo.

Penso que é dever dos pais tentar desenvolver a autoestima dos filhos. Excesso de comparação, cobranças e exigências irreais acabam prejudicando as crianças, que podem criar crenças destrutivas que irão prejudicá-los ao longo da vida. Um complexo de inferioridade pode surgir do sentimento de nunca ser bom o suficiente.

Ou seja, aquela criança que só recebe críticas e nunca é elogiada por alguma atitude pode desenvolver tal crença. Por outro lado, quem é criado sem limites pode criar um complexo de superioridade no futuro.

Contudo, em qualquer momento da vida podemos desenvolver complexos. E nem sempre depende do olhar ou da voz do outro. Às vezes é a maneira equivocada que criamos de reagir às situações do cotidiano. A pessoa pode supervalorizar a opinião do outro em detrimento da sua. Ou, ainda, se cobrar uma perfeição que é impossível de alcançar.

Para eliminar esses complexos é necessário muito trabalho e vontade de mudar. Afinal, quem define os modelos e padrões a serem seguidos somos nós. Aos adultos, podem sempre ensinar suas crianças a lidar com as diferenças, sejam elas quais forem, além de amá-las e educá-las com limites e muito amor. Já aqueles que sofrem por algum complexo, precisam compreender a emoção que está por trás dele, qual sentimento predomina. Em muitos casos a autoestima está inadequada. Então, a tarefa primordial é tentar desenvolvê-la. O amor e a aceitação devem vir de nós mesmos e não do outro. Precisamos descobrir a beleza que existe em cada diferença, pois é ela que nos faz únicos e especiais!

Texto originalmente publicado em Personare

sexta-feira, 3 de maio de 2013

ONDE VOCÊ COLOCA A SUA FELICIDADE?

"A felicidade está onde você a coloca. O problema é que você nunca a coloca onde você está". Essa frase, de autor desconhecido, nos ajuda a refletir sobre o sentido desta palavra tão simples e complexa ao mesmo tempo. Talvez a questão não seja onde colocamos nossa felicidade, mas sim o que ela representa para cada um de nós.

Há quem diga que a felicidade não é deste mundo, que nós vivemos apenas momentos de alegria em meio às adversidades. Outros acreditam que irão encontrar a felicidade fazendo viagens pelo mundo, enquanto alguns creem que estarão felizes conquistando riqueza e bens materiais. E ainda há aqueles que procuram a felicidade no outro, em alguma pessoa que os complete.

A verdade é que a felicidade não precisa ser tão complexa e difícil de ser conquistada. Ela não depende de que algo externo nos aconteça. Nós vivemos na agitação cotidiana e muitas vezes nos tornamos cegos quando ela se apresenta a nós. Então, em alguns casos, precisamos passar por uma crise ou alguma perda, para que voltemos a enxergar o quão precioso deve ser cada instante de nossa vida.

Contudo, para que encontremos a felicidade não precisamos deixar de lado os outros sentimentos, como tristeza, raiva e medo - que fazem parte de nós e também nos tornam humanos. Aceitar que estes sentimentos existem (e que eventualmente podem aparecer em nossa caminhada) é a certeza de que a felicidade, o amor e a serenidade também caminham juntos conosco.

EM BUSCA DA SUA FELICIDADE

Penso que a felicidade mora em nós: na forma como percebemos a nossa vida, como vivemos nossa história. Quando passamos a valorizar cada pequena vitória em nossa vida, somos felizes. E nem é preciso fazer comparações com o outro. Basta olhar para tudo que já vivemos, pessoas que conhecemos, aprendizados, conquistas, mudanças, etc.

Acredito que há algo simples que podemos fazer para nos lembrar da nossa própria felicidade. É só olhar para uma criança. E nem precisa ser mãe ou pai para fazê-lo. Observe um sobrinho, um neto, ou apenas uma criança brincando no parque. Mesmo as infâncias mais difíceis podem ter tido momentos de grande felicidade. Esse pequeno ser está descobrindo o mundo. Quando ainda bebê, vai aprendendo a ter controle sobre as mãos e os pés, balbucia sons que vão formando palavras e cada descoberta é um brilho no olhar, pura felicidade. A cada novo estímulo que lhe é apresentado ele vibra. Olhar para uma criança é o mesmo que viajar pelo mundo, pois viajamos através de seu olhar. Tudo é uma nova descoberta.

Então é válido lembrar que também já fomos crianças um dia, e passamos por todo esse aprendizado. Caímos e levantamos tantas vezes sorrindo, mas também escolhemos errado tantas vezes para aprender o que era certo para nós. Somos um somatório de muitas experiências. Algumas podem ter sido ruins, mas outras tantas foram realmente especiais. Então vamos nos orgulhar dessa pessoa que chegou até aqui e ser feliz agora!

Texto originalmente publicado em: Personare

segunda-feira, 22 de abril de 2013

RECOMEÇOS



Recentemente assisti ao filme Toda Forma de Amor (2010). O filme conta a história do artista gráfico Oliver Fields (Ewan McGregor) e a maneira como se relaciona com os demais. Achei um filme belo e tocante,e gostaria de realçar duas relações mais abordadas no filme: Oliver com seu pai Hal (Christopher Plummer), e de Oliver com uma atriz francesa Anna (Mélanie Laurent).

Hal, pai de Oliver, se assume homossexual para o filho aos 70 anos, após a morte de sua esposa. Oliver parece encarar a notícia de maneira natural e se recorda dos vários momentos da ausência do pai ao lado de sua mãe. Mas a surpresa para Oliver é que o pai parece iniciar uma nova vida. Conhece novas pessoas, se associa a grupos gays e arranja um belo e jovem namorado. Após uns anos descobre um câncer em um estágio avançado. O pai continua aproveitando e vivendo sua vida de maneira alegre e livre até o fim de seus dias.

Hal e Oliver parecem opostos. Enquanto o filho carrega um peso e um olhar triste, seu pai parece um garoto que está aprendendo coisas novas. Oliver parece não entender aquela alegria até conhecer Anna. A atriz parece perceber e entender a tristeza de Oliver como se ela mesma vivenciasse tudo aquilo na sua vida.

Acho que o tema de fundo do filme são os eternos recomeços. Eles sempre acontecem em nossas vidas em momentos diversos. O pai de Oliver é um exemplo que a idade avançada não é pretexto para um fim de vida, é sempre possível iniciar novos projetos e aprendizados.

Anna, por sua vez, sempre com relações fulgazes em sua vida, se permite viver ao lado de Oliver. Mesmo com as dificuldades de ambos em se entregarem ao relacionamento a dois, eles tentar arrumar uma nova maneira de, mesmo com tantas diferenças, estarem juntos.

Oliver parece passar por uma grande crise em sua existência onde questiona o sentido da vida. A sua maneira e utilizando seu trabalho ele consegue traçar a história da tristeza.É como se assim falasse de si mesmo e da sua própria história. Mas ao lado de Anna ele se sente vivo de novo. E mesmo acreditando que não iria se apaixonar na vida, ele se entrega à Anna apesar de todos os seus medos. Além disso, tem um simpático cãozinho como seu “conselheiro” e fiel companheiro.

Quantas vezes acreditamos que estamos a beira do abismo e não há saídas? Sentimos-nos sem rumo, como se a vida nos colocasse em Xeque-mate. Mas são nestes momentos que é preciso que nos lembremos de que a roda da vida não para de girar. E a saída muitas vezes é olhar para o aqui e agora e... viver. Que seja a dor, a tristeza, a paixão, a alegria... Viver simplesmente este exato momento em toda sua intensidade. Pois ele passa, e com ele virão os aprendizados e mais um recomeço em nossa jornada.

Nunca é tarde mesmo para Recomeçar... Pode até ser difícil, mas o tempo, se a gente quiser, estará a nosso favor.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

TOMANDO CONSCIÊNCIA



Após escrever o artigo sobre o filme “O Lado bom da Vida” e falar sobre coragem para mudanças, venho recebendo muitos emails de leitores que gostaram do texto. Alguns se identificam ou se inspiram. Outros veem a possibilidade de obter uma opinião, um conselho para algum problema pelos quais estão passando. Claro que fico muito feliz com a repercussão positiva de algo que escrevi. Então, leio, acolho e respondo cada um dos emails que chega até a mim. Afinal o que seria dos textos se não fossem os leitores!

Mas tudo isso me inspirou a escrever sobre outra questão. A dura realidade da mudança. O fato é que mudar não é fácil. Não existem soluções rápidas e milagrosas para nossos problemas. A solução vem de nós. E o primeiro passo é a Tomada de Consciência. Quem somos nós afinal? O que realmente desejo para mim? Quais são as crenças que me movem? Elas são minhas ou foram herdadas da família? Se soubéssemos quanto carregamos de nossos familiares (pais, avós, tios, irmãos, etc) talvez as coisas fossem mais simples, pois ao menos saberíamos por onde começar.

No processo de mudança, a coragem é apenas um dos passos. Claro, pois sem ela nem sairíamos do lugar. Reconhecer quem somos pode ajudar a definir aonde queremos chegar. E para isso, não há fórmulas. Há trabalho, muito trabalho. É preciso sair da zona de conforto. Escolher. Tarefa difícil, pois quando escolho uma coisa abro mão de tantas outras. Às vezes é preciso rever velhos hábitos ou comportamentos que se repetem. Mas realmente estamos dispostos a fazer esse movimento?

A mudança não é estática, o próprio nome não diz? Ela precisa ocorrer constantemente. Muitas vezes tentamos resolver nossos problemas com a mesma solução. E este é o problema maior! Não conseguimos ampliar o olhar, direcioná-lo para outros ângulos. Claro que estamos muito envolvidos em nós mesmos e é difícil olhar de fora. Neste momento uma ajuda profissional pode auxiliar. Digamos que é como desenrolar alguns novelos de lã. É preciso achar a ponta e aos poucos ir puxando, puxando, sempre com muita paciência para não dar mais nós ainda.

É louvável as pessoas que buscam livros, viagens, cursos, grupos de autoajuda, projetos que direcionam ao autoconhecimento e até, (e muitas vezes em ultimo caso) a psicoterapia. Elas querem mudar e vão em busca de recursos para lhes auxiliar. Mas o que esquecem é que o primeiro recurso e primordial está dentro, não fora. Então muitas vezes investem tempo e dinheiro e não obtém o retorno esperado. Acabam com os mesmos problemas, não conseguem mudar velhos hábitos e preferem não olhar para si, afinal é mais fácil pensar que o problema está no outro.

Soluções rápidas e fáceis são ilusões vendidas e propagadas em nossa grande rede. O que existem são ferramentas que podem auxiliar no processo de mudança ou autoconhecimento. Mas uma ferramenta é inútil na mão de quem não sabe (ou não quer) usá-la. O desejo é o que nos move. E para mudar é preciso movimento. Então, com ou sem ferramenta, mãos a obra, pois o trabalho é constante...

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A ARTE DE ENVELHECER AO LADO DE QUEM AMAMOS



O longa metragem "Amor", indicado ao Oscar de melhor filme em 2013, conta a história de Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva), um casal de idosos que após anos de convivência precisa enfrentar um sério problema de saúde de Anne. O filme aborda um assunto do nosso cotidiano, mas que quase nunca é retratado em filmes: um casal que se ama está preparado para envelhecer junto?

Afinal, quando um homem e uma mulher se conhecem ainda com o vigor da juventude, tudo entre eles consiste em lindas promessas. Um futuro ao lado de quem ama, constituindo uma família (com ou sem filhos), dividindo alegrias e tristezas, costuma ser o plano de qualquer casal apaixonado. Mas o que quase nunca lembramos é que o futuro também nos reserva o envelhecimento.

E envelhecer não precisa ser doloroso. A terceira idade é hoje chamada por alguns de "melhor idade". É quando, teoricamente, a vida pode ser aproveitada em seu ápice. Pois além da possibilidade de estarmos isentos de algumas obrigações (com a aposentadoria, por exemplo) ainda temos a maturidade de toda uma vida para aproveitar melhor os momentos ao lado de quem amamos. Melhor ainda para aqueles que envelhecem cuidando da saúde, praticando exercícios e com uma alimentação equilibrada.

Contudo, o corpo já não é mais o mesmo. Mesmo com um envelhecimento saudável precisamos estar preparados para aceitar as limitações que a idade do corpo físico estabelece. E apesar de todos os cuidados, sintomas típicos desta fase da vida podem surgir. Claro que estamos sujeitos a eles em qualquer idade, mas é na velhice que eles podem aparecer com mais constância. E é para este momento que o casal precisa estar preparado.

Amor na saúde e na doença?

Certamente, cada etapa do nosso ciclo de vida tem seus desafios. E o maior deles na terceira idade é lidar não apenas com as doenças, mas com a morte do outro. O filme retrata a maneira como Georges precisa lidar com Anne após ela sofrer um derrame. E tudo o que ele faz é continuar amando a esposa, independente das circunstâncias e dificuldades. Isso é um amor maduro. Não é mais aquele amor da juventude, cheio de promessas. Essas já foram vividas e é a realidade simples e dolorosa que está sendo vivenciada.

Por mais controverso que seja a forma como o diretor Michael Haneke lida com o tema (e apenas quem assistir ao filme poderá tirar suas próprias conclusões), ele nos faz refletir. O amor nosso de cada dia é o que nos move. E quando um casal resolve compartilhar uma existência, este amor precisa amadurecer na medida em que ambas as partes também amadurecem. E apenas um amor maduro pode enfrentar os desafios que a vida oferece, quaisquer que sejam eles. Então, o amor na saúde e na doença, torna-se tão possível quanto o viveram felizes para sempre.

Texto originalmente publicado em: Personare

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Buscando o Equilíbrio entre o Feminino e o Masculino



O filme A Dama de Ferro (2012) traz Meryl Streep no papel de Margaret Thatcher que governou a Grã-Bretanha entre 1979 e 1990. Recordo-me vagamente de Thatcher no governo, pois na adolescência não estava muito interessada em política. Mas me lembro de carregar a imagem de uma mulher dura e fria.

A história do filme é baseada na vida de Thatcher e como ela chegou ao poder. Mas a reflexão que o filme me propiciou não foi sobre a política ou o poder, mas sobre a mulher e o feminino.

Thatcher inicialmente se mostra uma jovem idealista. Deseja seguir os passos do pai. Ela quer mudar o mundo. Em contrapartida vivia numa época na qual a mulher era vista como fraca e submissa, e era proibida de se interessar por política. Se ela queria governar algo, teria que ser o lar. A jovem então rompe com os padrões. Segue seu desejo e não descansa até chegar a um cargo público.

A princípio Thatcher mostra sua sensibilidade. Iniciou um romance que logo se transformou em casamento com Denis Thatcher um homem sensível e bem humorado (como foi mostrado no filme). Seu ideal é contagiante. Apoiada pelo marido se elege para liderar o partido, algo nunca antes imaginado por uma mulher.

A Thatcher idealista sai de cena para dar lugar a uma mulher ambiciosa. Ela consegue liderar o partido que era composto apenas de homens. Consegue ser respeitada e, por vezes, até temida. E a meu ver esse foi o problema dessa intrigante mulher.

Margareth Thatcher deixou de lado algo fundamental, seu lado sensível, o lado Yin. O masculino e feminino fazem parte de todos nós. Homens e mulheres são bem representados pela figura do Yin-Yang. No reino do pensamento, Yin é a mente intuitiva, complexa, ao passo que Yang, é o intelecto, racional e claro. Não podemos negar isso, é a nossa essência. Mas muitas mulheres negam. Acreditam que para serem reconhecidas profissionalmente não podem agir com sensibilidade. Claro que naquela época, era mais visível e talvez até necessário em alguns momentos. Mas ainda hoje, algumas mulheres acham que precisam negar seu lado feminino em prol do masculino. A meu ver, foi isso que fez a primeira ministra do Reino Unido. Para ser reconhecida e se tornar líder, ela mostrou toda sua dureza. Não é por acaso que se tornou a Dama de Ferro. Não aceitava opiniões que fossem divergentes da sua. Defendia suas ideias com unhas e dentes. Nem mesmo a maternidade a ajudou a demonstrar sua sensibilidade e doçura.

Na época de Thatcher e para chegar aonde chegou talvez ela precisasse agir da maneira como agiu. Ela fez história e foi admirada por muitas mulheres. Foi amada e odiada durante o tempo que permaneceu na vida pública. Mas, eu acredito que se esta mulher não tivesse abandonado seu idealismo e sensibilidade conseguiria ir ainda mais longe na história política do pais.

Acredito que mulheres que agem dessa forma, com autoritarismo e até com certa intransigência, aprenderam que precisam aparentar força e dureza para prosperarem em suas vidas. Contudo, esconder o lado sensível, cuidadoso e tranquilo não auxilia que as mulheres sejam melhores ou iguais aos homens. Pelo contrário, as tornam reféns do masculino que há em todas nós. Assim, acaba ocorrendo o que elas mais evitam: elas são dominadas pelo homem, o masculino, o Yang. Afinal, como em todas as áreas da vida, o que deve reinar é sempre o equilíbrio.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

VOCÊ TEM CORAGEM PARA MUDAR?



O filme "O Lado Bom da Vida" (Silver Linings, 2013), indicado ao Oscar deste ano, proporciona reflexões acerca de alguns temas interessantes, como saúde mental, traição, perdas e relacionamentos. Todos os assuntos fazem parte de um emaranhado que vai se desenrolando aos poucos entre os personagens. Mas é sobre a essência, o pano de fundo da obra, que vamos refletir.

A história é sobre o homem Pat Solitano Jr. (Bradley Cooper), que após presenciar a traição da esposa e ter um acesso de fúria, fica internado em um hospital psiquiátrico por oito meses. O filme inicia com o retorno do personagem à casa dos pais. Pat, então, tenta reconstruir sua vida, buscando resgatar o que perdeu no passado, incluindo seu casamento. Contudo, ele conhece Tiffany (Jennifer Lawrence), uma mulher que também tenta superar suas dores do passado, e que pode mudar seus planos.

Pat quer retomar sua vida do mesmo ponto antes de ser internado. Ele não percebe que tudo está diferente. Seus pais, sua casa, o antigo trabalho, sua ex-esposa e, principalmente, ele mesmo. Isso nos ajuda a refletir sobre como muitas vezes nos apegamos a coisas e relacionamentos que tivemos e que já se foram. Ficamos presos ao passado e isso nos impede de olhar o que está a nossa frente.

Claro que não é mesmo simples desapegar daquilo que não nos serve mais. É mais seguro e cômodo ficar com algo que já conhecemos, ao invés de nos lançar no desconhecido. Com os relacionamentos amorosos não é diferente. Às vezes permanecemos em uma relação fracassada e infeliz, pois ao menos é algo familiar, sabemos até quais são os defeitos que nos incomodam. Além disso, o outro também nos conhece e da mesma maneira sente-se seguro sabendo que precisa lidar com tantas diferenças.

Mas se você não solta o passado, com qual mão agarra o futuro?

Essa frase de autoria desconhecida pode resumir o enredo de "O lado bom da vida" - e da nossa vida também. A personagem Tiffany entra na história de Pat para lembrá-lo disto. Ela também está presa a uma perda do passado, mas, ao contrário do protagonista, não deixa que isso a impeça de olhar para o presente. Ambos os personagens acabam ajudando um ao outro a continuarem caminhando em suas vidas. E isso também ocorre na realidade, sempre há alguém para nos ajudar a caminhar.

Então, mesmo que você esteja acomodado a uma situação antiga, experimente olhar para o lado e ver que há algo novo reservado para você. Mas isso requer coragem de nossa parte. Coragem de mudar. Afinal, como diria Harold MacMillan, o primeiro ministro do reino Unido, "deveríamos usar o passado como trampolim e não como sofá".

Texto originalmente publicado em: Personare

sábado, 26 de janeiro de 2013

MEU AMOR ME TRAIU, E AGORA?



O caminho é a felicidade ou a felicidade é o caminho? Essa é a frase que dá início ao filme brasileiro "Onde está a felicidade?" (2011). A história é leve e com alguns clichês, mas levanta um debate importante sobre a traição.

Gosto de filmes que retratam conflitos de casais, pois costumam refletir bem a realidade da vida a dois (tirando os finais sempre felizes, é claro). No filme, Teodora, interpretada por Bruna Lombardi, sente-se traída pelo marido Nando (Bruno Garcia), após ver uma mulher o seduzindo pela webcam do computador. O homem diz à esposa que nunca encontrou sua parceira virtual e que, portanto, aquilo não poderia ser considerado uma traição. Então, chegamos a um assunto corriqueiro atualmente, a infidelidade virtual.

A interpretação de Nando é pessoal e intransferível. Afinal, só quem vivencia essa experiência pode afirmar se houve infidelidade. Mas em uma situação como essa eu prefiro olhar para o todo. O filme não aprofunda o assunto, mas seria interessante entender os motivos que levaram Nando a conhecer a mulher virtual. O que ocorria no casamento e o que deixava de acontecer? Aparentemente, os personagens, casados há 11 anos, eram apenas diferentes em alguns comportamentos do dia a dia, assim como outros diversos casais. Ele ama futebol, ela gosta de cozinhar. Ele é bagunceiro e ela extremamente organizada. Mas essas diferenças não são suficientes para levar à traição.

É POSSÍVEL PERDOAR UMA TRAIÇÃO?

Penso que a infidelidade é derivada de uma crise conjugal. E como qualquer crise, pode ou não ser superada. Isso depende da maturidade do casal e do relacionamento existente entre eles. Mas passar por uma crise requer mudança de ambos os lados. Infelizmente é comum que a pessoa que se sente vitimada (geralmente quem é traído) não esteja disposta a aceitar a sua responsabilidade na traição. Mas não há vitimas e algozes em relações amorosas. Ambos contribuem para a evolução do relacionamento. Algumas vezes a "vítima" não tem a consciência de que algum comportamento seu pode ter influenciado a atitude de seu suposto "algoz". Mas o casal alimenta os papéis um do outro todo o tempo e, em alguns casos, por toda vida.

O que fazer então? Um bom terapeuta de casal pode resolver. Mas se o casal conseguir retomar o diálogo e esclarecer os pontos obscuros da relação, já é um ótimo começo. O problema é que na maioria das vezes as pessoas apenas pensam que resolveram a situação, mas a cada nova discussão ou crise no relacionamento (porque elas irão ocorrer) o tal assunto volta à tona.

APRENDENDO A REGAR SUA RELAÇÃO

Certa vez tive o privilégio de assistir uma palestra com o Carlos Arturo Molina, escritor na área de Psicologia Familiar e de Casal, na qual ele mencionou este assunto. Achei brilhante uma tarefa que ele deu a um casal que passava por tal situação. O especialista disse que ambos teriam que enterrar aquele assunto de uma vez por todas. E como procuraram a terapia, é porque estavam mesmo decididos a melhorar a relação. O casal aceitou a proposta e tiveram que fazer um acordo por escrito, afirmando que qualquer crise conjugal, dali por diante, deveria ser resolvida no prazo de um ano. O mesmo problema não poderia nunca estar presente em novas discussões no futuro, sob pena de pagamento de alguma multa simbólica estabelecida por ambos. Assim, o casal pode escolher que a felicidade de um não dependeria do outro, mas sim do esforço de cada um estar presente no relacionamento, construindo com respeito, amor e diálogo uma relação madura e preparada para enfrentar as crises.

Termino com uma frase do personagem Nando, citada no final do filme: "o amor é como a caatinga: quando tudo parece estar seco e morrendo, de repente vem a chuva e tudo floresce novamente". Casais que ainda acreditam em seu relacionamento precisam aprender a fazer chover!

Texto originalmente publicado em Personare.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A AUSÊNCIA DA PRESENÇA



A leitura do livro Autoridade sem Violência: O resgate da voz dos pais me propiciou muitas reflexões como Psicóloga e como Mãe! Um livro que eu nunca tinha ouvido falar e talvez não pensasse que seria tão relevante. Mas o prefácio de Carlos Arturo Molina-Loza, um autor sistêmico o qual sou fã, me animou em adquiri-lo numa troca de presentes. O livro de Haim Omer, é pequeno, simples e ao mesmo tempo, objetivo e profundo. Ganhou-me já nas primeiras páginas nas quais o autor descreveu ligeiramente três abordagens da psicologia, a sistêmica, a humanista e a comportamental e explicou que queria unir o que cada uma tinha de melhor para auxiliar na clínica com pais e filhos. O autor então descreve no decorrer do seu livro algumas manifestações da presença parental, sempre exemplificando com seus casos interessantes.

O assunto é simples. É possível ser presente e ter autoridade com os filhos, sem utilizar a violência para conseguir isso. Simples e complexo ao mesmo tempo. Se pensarmos em problemas do cotidiano, como uma birra ou teimosia, pode até ser mais fácil, mas problemas de utilização de drogas, violência com os pais e até autoextermínio são bemmmmm mais complexos.

Ser presente é bem mais complexo que podemos imaginar. É estar ali para aquela pessoa, denominada filho (a), e respeitá-la, amá-la, educá-la e discipliná-la. E isso nada tem a ver com a quantidade de tempo ao lado deste filho (a), mas com a qualidade é claro. Muitos pais acabam ligando o piloto automático e vão apenas cumprindo papéis para que nada falte ao filho em termos materiais, e como não estão lhe dando com objetos, mais cedo ou mais tarde eles perdem a voz e os filhos acabam estabelecendo-se como autoridades máximas no lar. Esse resgate no qual o autor fala pode ser difícil, mas não é impossível, e requer trabalho e comprometimento.

As vezes criamos expectativas irreais e nos afundamos em frustrações. Mas não criar nenhuma expectativa também não é o caminho. Como escreve OMER (2011):

Evidentemente que algumas crianças sofrem com as expectativas excessivamente rígidas dos pais. No entanto, será que outros também não sofrem pela falta de expectativas? Nas famílias que estamos estudando, a resposta é claramente positiva. Os pais que estamos ajudando sentem-se tão inseguros que não se atrevem nem mesmo a esperar algo de seus filhos. Parece que eles consideram a esperança como um perigoso micróbio: esperar significaria tenta, tentar significaria exigir, e exigir significaria naufragar num mar de brigas. Ouvimos, entretanto, muitas queixas tardias dessas crianças contra seus pais: “Você nem sequer sonhou que mim sairia algo de bom!” (pag.34)

Outro erro comum que nós temos é os sermões sem fim. Palavras não significam presença, pelo contrário, podem significar ausência. É o Blábláblá do qual os filhos reclamam e debocham muitas vezes. Substituir as palavras vazias por atos podem provar aos filhos que eles não estão sozinhos pois aí sim há a presença parental.

E a danada da culpa. Essa sim merecia um livro a parte. Quanta coisa fazemos ou deixamos de fazer aos nossos filhos, por causa dela. São aqueles pais que acabam permitindo que o filho faça tudo, pois acredita que assim o deixará feliz e não terá culpa de nada. Como coloca o autor:

Nos pais, o sentimento de culpa alimenta o de pena e ambos garantem um suprimento contínuo de ansiedade. E os três podem reduzir até a voz pessoal mais vibrante a um inexpressivo sussurro. (...) A pena é muito diferente do amor maduro. Para que amemos nossos filhos como pessoas (e não apenas como objeto de nosso sentimentalismo), precisamos nos sobrepor à pena que sentíamos de nossos filhos quando eles ainda eram pequenos e incapazes. (pág.78)

Então, deixar tudo, ter pena, sentir culpa nada tem a ver com amor. Os filhos precisam de nossa voz, nossa presença efetiva. Isso é feito com atitude, atos de amor.

E principalmente, não precisamos conseguir tudo sozinhos. Pedir ajuda a um psicólogo não é sinal de fraqueza na educação dos filhos (ou em qualquer outra situação). Pelo contrário. É o reconhecimento de que podemos fazer mais, só que ainda não descobrimos como. E um terceiro pode nos ajudar a ver, olhar pra dentro.

A capacidade de reconhecer um erro e de mudar o rumo não é sinal de fraqueza ou de falta de determinação. Ao contrário, a pessoa com falta de confiança própria é que, frequentemente, sente-se ameaçada por mudanças de roteiro. Em nossa experiência, os pais são particularmente inflexíveis no princípio do processo terapêutico, quando ainda se sentem inseguros. À medida que vão ficando temperados pela empreitada, eles se tornam mais flexíveis e sentem-se mais capazes de reconhecer erros e abandonar exigências demasiadamente rígidas. (pág.92)

OMER, Haim. Autoridade sem violência: o resgate da voz dos pais. Belo Horizonte: Artesã, 2011. P.92