sábado, 7 de fevereiro de 2009

Resgatando nossa criança interior




Já faz um tempo gostaria de escrever sobre a nossa criança interior. Essa idéia me ocorreu a partir do filme Duas Vidas (The Kid), depois de assisti-lo pela quinta vez para um trabalho na faculdade. Gosto de utilizar os filmes como metáforas para ilustrar situações corriqueiras de nossas vidas, e alguns deles têm muito a nos dizer.



Nesse filme, Bruce Willis faz o papel de Russ, um executivo frio e ambicioso, que aparentemente não mantém nenhuma relação de afeto por ninguém. Porém, em dado momento, ele se depara com Rusty, ele mesmo aos 8 anos, e começa a rever as escolhas que fez em sua vida. O filme revela o quanto uma criança ferida pode transformar a vida de um adulto.



Todos temos uma criança interior que precisa ser lembrada. Na correria do dia-a-dia, acabamos não lhe dando a atenção necessária. Também não pensamos que uma dificuldade vivida hoje, pode ser reflexo dessa criança ter sido ferida no passado.



Em algum momento, podemos pensar: "Bons tempos aqueles em que eu era criança e não tinha tantas responsabilidades." Na verdade, não é isso que estamos pensando, já que esse sentimento é desenvolvido desde cedo em nossas vidas. O que sentimos falta realmente é da Liberdade. "Como assim?", alguns podem perguntar. Afinal, considera-se que a liberdade só chega a partir dos 18 anos. Deixe-me explicar melhor.



A criança é livre, pois não tem medo de errar. Arrisca-se a cair e a levantar quantas vezes forem necessárias, sem preocupações com o tempo ou com a opinião alheia. Aproveita tudo que a vida tem para oferecer em cada momento. Experimenta o que quer e da forma que deseja sem medo de acabar. Aquele chocolate único e delicioso, que nós adultos comemos aos poucos, a criança o mastiga por completo. Porque ela prefere saboreá-lo em sua boca por um longo tempo, sem medo de que ao terminar não haverá mais. Ela deseja ser feliz agora. A criança diz às pessoas como se sente, sem medo de julgamentos.



Por esses e outros motivos, éramos livres quando criança. Livres das amarras que nós próprios criamos ao longo de nossa vida. Livres do medo do pré-julgamento dos outros. Éramos livres do medo de ser feliz.



O Russ adulto era uma criança ferida. No filme, ele teve a chance de voltar no tempo e perceber em qual momento foi marcado pela dor. O menino Rusty o ajudou lembrando-o como era bom ser criança.



Portanto, se quisermos mesmo entender e resgatar nossa criança interior, basta olhar para dentro e ouvir o que ela tem a nos dizer. Nossa criança pode não estar ferida, mas merece ser sempre amada.



O que proponho não é pararmos no tempo, tal como alguns adultos fazem ao manter comportamentos infantis. É, sim, sabermos quando e como darmos vazão a essa criança que existe em nosso íntimo. Para isso, não tenha vergonha quando ela quiser se manifestar. Viva e se esbalde, pois essa é uma ótima oportunidade de viver o agora.



Algumas sugestões podem lhe ajudar a resgatar sua criança ferida:


- Vá ao supermercado e compre coisas que você normalmente não come com as mãos. Leve para a casa e se lambuze saboreando tudo;


- Faça barulhos com objetos em casa, só para ouvir os sons. Não esqueça as panelas e talheres;


- Repita em voz alta por vinte vezes a palavra não;


- Arrisque confiar em um amigo de quem você gosta. Deixe que ele faz os planos e controle o que fizerem juntos;


- Reserve períodos de tempo para não fazer nada, não ter planos, não ter compromissos, simplesmente curtir;


- Deite-se numa rede e fique ali se balançando pelo tempo que quiser;



Uma outra técnica para o resgate da nossa criança interior, consiste em escrever cartas para ela em vários estágios de seu desenvolvimento. Para o bebê interior, para a criança que começa a andar, na idade pré-escolar até a adolescência, e também para os Pais. Não precisa ser nada muito elaborado, apenas deixe as idéias aflorarem em sua mente. Talvez esta seja a hora certa para cicatrizar algumas feridas.



Artigo originalmente publicado em www.personare.com.br/revista (Postado aqui com algumas alterações).



2 comentários:

Anônimo disse...

Olá Cris,

Legal seu texto sobre o filme: "foi apenas um sonho". É importante no processo da busca da felicidade conjugal entendermos que o outro não é a parte perdida da nossa "carne" mas um suplemento a nossa, já conquistada felicidade interior. O importante é encontrarmos em nós, primeiramente, a felicidade para podermos não buscá-la no parceiro, mas dividi-la com ele.

Isso me faz pensar numa frase de um mestre ascenso: A perfeição é uma atividade constante.

Abraço

Merim

Michelle disse...

Muito obrigada pelo seu post, me ajudou a desatar alguns nós...
Abraço!