terça-feira, 8 de janeiro de 2013
A AUSÊNCIA DA PRESENÇA
A leitura do livro Autoridade sem Violência: O resgate da voz dos pais me propiciou muitas reflexões como Psicóloga e como Mãe! Um livro que eu nunca tinha ouvido falar e talvez não pensasse que seria tão relevante. Mas o prefácio de Carlos Arturo Molina-Loza, um autor sistêmico o qual sou fã, me animou em adquiri-lo numa troca de presentes. O livro de Haim Omer, é pequeno, simples e ao mesmo tempo, objetivo e profundo. Ganhou-me já nas primeiras páginas nas quais o autor descreveu ligeiramente três abordagens da psicologia, a sistêmica, a humanista e a comportamental e explicou que queria unir o que cada uma tinha de melhor para auxiliar na clínica com pais e filhos. O autor então descreve no decorrer do seu livro algumas manifestações da presença parental, sempre exemplificando com seus casos interessantes.
O assunto é simples. É possível ser presente e ter autoridade com os filhos, sem utilizar a violência para conseguir isso. Simples e complexo ao mesmo tempo. Se pensarmos em problemas do cotidiano, como uma birra ou teimosia, pode até ser mais fácil, mas problemas de utilização de drogas, violência com os pais e até autoextermínio são bemmmmm mais complexos.
Ser presente é bem mais complexo que podemos imaginar. É estar ali para aquela pessoa, denominada filho (a), e respeitá-la, amá-la, educá-la e discipliná-la. E isso nada tem a ver com a quantidade de tempo ao lado deste filho (a), mas com a qualidade é claro. Muitos pais acabam ligando o piloto automático e vão apenas cumprindo papéis para que nada falte ao filho em termos materiais, e como não estão lhe dando com objetos, mais cedo ou mais tarde eles perdem a voz e os filhos acabam estabelecendo-se como autoridades máximas no lar. Esse resgate no qual o autor fala pode ser difícil, mas não é impossível, e requer trabalho e comprometimento.
As vezes criamos expectativas irreais e nos afundamos em frustrações. Mas não criar nenhuma expectativa também não é o caminho. Como escreve OMER (2011):
Evidentemente que algumas crianças sofrem com as expectativas excessivamente rígidas dos pais. No entanto, será que outros também não sofrem pela falta de expectativas? Nas famílias que estamos estudando, a resposta é claramente positiva. Os pais que estamos ajudando sentem-se tão inseguros que não se atrevem nem mesmo a esperar algo de seus filhos. Parece que eles consideram a esperança como um perigoso micróbio: esperar significaria tenta, tentar significaria exigir, e exigir significaria naufragar num mar de brigas. Ouvimos, entretanto, muitas queixas tardias dessas crianças contra seus pais: “Você nem sequer sonhou que mim sairia algo de bom!” (pag.34)
Outro erro comum que nós temos é os sermões sem fim. Palavras não significam presença, pelo contrário, podem significar ausência. É o Blábláblá do qual os filhos reclamam e debocham muitas vezes. Substituir as palavras vazias por atos podem provar aos filhos que eles não estão sozinhos pois aí sim há a presença parental.
E a danada da culpa. Essa sim merecia um livro a parte. Quanta coisa fazemos ou deixamos de fazer aos nossos filhos, por causa dela. São aqueles pais que acabam permitindo que o filho faça tudo, pois acredita que assim o deixará feliz e não terá culpa de nada. Como coloca o autor:
Nos pais, o sentimento de culpa alimenta o de pena e ambos garantem um suprimento contínuo de ansiedade. E os três podem reduzir até a voz pessoal mais vibrante a um inexpressivo sussurro. (...) A pena é muito diferente do amor maduro. Para que amemos nossos filhos como pessoas (e não apenas como objeto de nosso sentimentalismo), precisamos nos sobrepor à pena que sentíamos de nossos filhos quando eles ainda eram pequenos e incapazes. (pág.78)
Então, deixar tudo, ter pena, sentir culpa nada tem a ver com amor. Os filhos precisam de nossa voz, nossa presença efetiva. Isso é feito com atitude, atos de amor.
E principalmente, não precisamos conseguir tudo sozinhos. Pedir ajuda a um psicólogo não é sinal de fraqueza na educação dos filhos (ou em qualquer outra situação). Pelo contrário. É o reconhecimento de que podemos fazer mais, só que ainda não descobrimos como. E um terceiro pode nos ajudar a ver, olhar pra dentro.
A capacidade de reconhecer um erro e de mudar o rumo não é sinal de fraqueza ou de falta de determinação. Ao contrário, a pessoa com falta de confiança própria é que, frequentemente, sente-se ameaçada por mudanças de roteiro. Em nossa experiência, os pais são particularmente inflexíveis no princípio do processo terapêutico, quando ainda se sentem inseguros. À medida que vão ficando temperados pela empreitada, eles se tornam mais flexíveis e sentem-se mais capazes de reconhecer erros e abandonar exigências demasiadamente rígidas. (pág.92)
OMER, Haim. Autoridade sem violência: o resgate da voz dos pais. Belo Horizonte: Artesã, 2011. P.92
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