Uma mãe nos seus 50 anos, com dois filhos adultos e um bom
marido, encontrou um cartão com esses dizeres e resolveu dar um cartão para
cada um dos seus filhos no dia das mães, que seria um mês depois.
Achou perfeito, pois resumia tudo que ela gostaria de pedir
aos seus filhos: que não a criticassem quando ela cometesse gafes; que não
insistissem para ela se arrumar quando estava desanimada; que não reclamasse
para ela dos erros e esquecimentos da empregada; que não rissem da forma como
ela cantava e dançava suas músicas prediletas; que, quando ela tivesse um
ataque de choro, só a abraçassem, carinhosamente, sem críticas ou perguntas;
que arrumassem a bagunça do quarto, da sala ou da cozinha só porque ela estava
chegando e odiava aquilo; que ficassem quietos quando ela destemperasse, mesmo
sem razão aparente; que não esperassem agradecimentos pelas coisas que ela acha
que são deveres mínimos; que lhe providenciassem um chá quente e um roupão
macio nos seus maus dias.
Com o passar dos dias, ela foi exercitando prever a reação
dos filhos ao receber o cartão. Na dúvida sobre se mantinha a decisão ou não,
foi enxergando o quanto os filhos se sentiriam criticados; como eles reagiriam,
criticando-a; como diriam que ela nunca estava satisfeita, que não via o que
eles tinham de bom. Com isso, ela foi se sentindo mal, incompreendida, mal
amada e ficou pensando como fazer para que não fosse tão ruim.
Resolveu mostrar o cartão para uma amiga e ver a reação. A amiga
viu, leu e achou interessantíssimo dar esse cartão para sua mãe; ficou se deliciando
com o que poderia fazer com a mãe, dando-lhe aquele cartão. No susto, a mulher
não conseguiu explicar que não era para dar para a mãe, e sim para os filhos.
Passou, então, a exercitar o avesso. Como seria receber esse
cartão de um dos filhos? Ele daria o cartão com pedidos embutidos: que ela não
o criticasse por esquecer os compromissos, tão importantes para ela, e não para
ele; que não o achasse burro por não saber quem era determinado autor,
político, personagem que foi vital para o mundo, na visão da mãe; que não “marcasse
cerrado” todas as vezes que tivesse “maus modos”; que entendesse o quanto é
importante para ele se explicar, enquanto ela fecha a questão; que não
insistisse para saber as suas respostas, quando ele mesmo não as sabe; que
aceitasse quando ele não está bem, satisfeito e sorrindo, sem saber por que
está assim; que não esperasse agradecimentos e reconhecimentos pelas funções
básicas de sobrevivência; que lhe desse colo quando fosse possível, sem
aproveitar o bom momento para fazer críticas que não conseguiu fazer antes.
Desistiu de dar o cartão.
Trecho do Livro Pais e filhos uma relação delicada de Solange Rosset
Nenhum comentário:
Postar um comentário