Recentemente assisti ao filme Abutre (Nightcrawler/2014) e achei interessante para comentar sobre o caminho da mídia de TV. O filme conta a história do jovem Louis Bloom (Jake Gyllenhaal) que enfrentando dificuldades para conseguir um emprego formal, decide entrar no agitado submundo do jornalismo criminal independente de Los Angeles. A fórmula é correr atrás de crimes e acidentes chocantes, registrar tudo e vender a história para veículos interessados. *
O filme faz pensar sobre a maneira como as informações chegam até nós e como a recebemos. Impressionante o que o Louis faz para obter uma grande reportagem. Sem nenhuma ética com o outro ele usa do que for necessário para obter as melhores imagens. E age sempre com uma frieza impressionante (Uma das melhores atuações do ator na minha opinião).
Mas o que temos haver com isso? Fico pensando sobre tudo que é transmitido nos canais de jornalismo (sem falar da mídia impressa que não fica de fora). A manipulação ficou evidente para alguns após as últimas eleições, mas a transmissão de tragédias, crimes brutais e acidentes fatais nunca foi questionada. Afinal a mídia precisa informar certo? E nós nos alimentamos disso e com isso alimentamos nosso medo e insegurança com tudo.
Quanto pior a tragédia, mas a notícia é transmitida e jornais são vendidos. Então sim, quem alimenta a forma como essas notícias são buscadas somos nós. Se existem jornalistas como o Louis, o que não duvido, é porque as pessoas compram a ideia. Em certo nível é como os paparazzi atrás de celebridades... Onde está o limite? Qual o limite do informativo e do “explorativo”. Quantas vezes uma mesma imagem de tragédia precisa ser transmitida, e com quantos detalhes, para que as pessoas estejam informadas?
Então alguém pode pensar: Mas se não somos informados disso viveremos em um mundo irreal ignorando o que ocorre lá fora. A questão é que não existe um lá fora separado do que está dentro. Se informar é uma coisa, mas se nutrir apenas de notícias negativas é outra. Pois com isso passamos a acreditar, e as vezes, até a agir, como se o mundo fosse terrível cheio de misérias, pessoas más e coisas ruins por toda a parte. Porque o que é agradável não é rentável para as emissoras de televisão. Mostrar pessoas felizes, fazendo coisas boas uns aos outros e pelo planeta, não vende. Informações sobre saúde e bem estar, estão disponíveis apenas para quem é assinante de alguma TV paga e em alguns canais específicos. O que é visto são os jornais da tarde e noite. Aqueles que as pessoas assistem quando estão fazendo uma refeição. Enquanto alimentam seu corpo, se alimentam psiquicamente de crimes e tragédias.
Penso que em nada mudará sua vida se deixar de assistir ao noticiário na televisão. Isso não é alienação, pelo contrário, é talvez entrar em contato com o que realmente importa, aquilo que se passa ao seu redor, com sua família, com as pessoas que lhe amam e com você mesmo. E não pense que é egoísmo pois você pode muito bem pensar nos outros de maneira mais positiva. Claro que há pessoas morrendo todos os dias pelos mais diversos fatores, e a cada noite podemos elevar nossos pensamentos a elas independente do motivo. A dor existe. E sofre quem perde alguém por alguma doença em uma cama de hospital, tal qual alguém que passa por alguma violência ou tragédia. Os sofrimentos são diferentes pois são únicos, mas não é a maneira da morte que faz com que sejam diferentes, mas o sentimento de cada um que deve ser respeitado. E muitas vezes em um momento que deveria ser de luto e recolhimento há notícias e imagens espalhadas por todos os lugares. E para quê?
A questão é que também há muitas pessoas vivas, nascendo a cada momento e que esperam um mundo melhor. E este mundo está sendo feito a cada instante. Por mim, por você e por todos nós. Então contribuirmos efetivamente para que ele seja melhor, também é viver a vida de maneira mais positiva e atuante. Deixemos de ser expectadores de tragédias para sermos os protagonistas de nossas vidas e de um futuro melhor para nosso planeta!
*Fonte: Adoro Cinema
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