segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O NOSSO IDEAL NÃO É O IDEAL DO OUTRO

Filme ajuda a refletir sobre a importância de respeitarmos a vivência de cada um


Antigamente era comum que todos cuidassem uns das vidas dos outros. Principalmente em família tudo tinha que ser compartilhado e todos podiam dar opiniões na vida alheia. Então os tempos mudaram e definitivamente a privacidade não é mais a mesma. Outrora tão desejada, a privacidade passou a ser artigo de luxo em tempos de redes sociais. E aí vem a enxurrada de recomendações ou quase obrigações. NÃO PODE ficar sozinho! DEVE ficar sozinha! PRECISA se alimentar bem! SEJA feliz! FAÇA isso, ou faça aquilo! Somos bombardeados a cada momento sobre o que devemos ou não fazer, para sermos isto ou aquilo... receitas, receitas e mais receitas. 

Já disse por aqui que não tenho nada contra as “receitas”, ou seja, as dicas e ferramentas para aumentarem nosso bem estar e autoconhecimento. Mas como qualquer receita, não significa que o que funciona bem para um funcionará bem para o outro. As receitas podem e devem ser mudadas a gosto do freguês. 

Então me lembro de um filme de 2007, mas que ilustra de maneira tocante esta questão. Garota ideal (Lars and the Real Girl/2007) conta a história de Lars Lindstrom (Ryan Gosling) um homem introvertido, que vive na garagem de seu irmão mais velho, Gus (Paul Schneider), e sua cunhada Karin (Emily Mortimer). Ele vive sua vida sem muito contato com o outro, e em algum nível todos tentam influenciá-lo para que tenham uma vida mais sociável. Lars então inicia uma relação, que ele acredita ser real, com Bianca, uma boneca inflável. A médica da família sugere que todos entrem na “ilusão” dele até que ele não precise mais dela. 

O filme tem seus toques de humor, mas também faz a gente pensar. Por ser pressionado a ter uma relação o personagem precisou dar uma satisfação à sociedade tendo então um relacionamento. Com o decorrer da trama vamos entendendo melhor o protagonista que demonstra o quanto é difícil se relacionar pelo medo de perder. Ele faz pensar o quanto cada um escolhe seu próprio caminho para superar uma adversidade, mesmo que não seja algo convencional ou que todos aconselham. 

Além disso, podemos refletir sobre o quanto invadimos a vidas dos outros dando conselhos e sugestões baseadas em nossas próprias vivências e nos esquecemos que, como diria Caetano “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Lars precisou de seu próprio tempo para superar suas dores. Ele usou de um recurso para isso, mesmo sendo criticado inicialmente, ele sabia do que precisava. Muitas vezes, as pessoas não precisam de receitas, apenas de serem acolhidas, escutadas e respeitadas em suas dores e escolhas.

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